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Mineira faz sucesso internacional com desenhos engajados sobre mulheres

Rodrigo Casarin

16/09/2015 10h49

Mulheres_Marina

Testando seus lápis de cor que a ilustradora mineira Carol Rossetti começou, em 2014, a desenhar mulheres. Logo as ilustrações (veja outras abaixo) começaram a vir acompanhadas de frases inspiradoras, afirmativas, engajadas e politizadas. Quando disponibilizou o trabalho na internet, a artista viu as figuras tomarem inesperadas proporções: viralizaram, foram compartilhadas por celebridades e até se tornaram assunto da CNN.

mulheresAgora, essas imagens feitas por Carol, que incentivam moças a lutarem por respeito, pelos seus direitos, pelo amor-próprio e pela dignidade, foram reunidas no livro "Mulheres", lançado pela Sextante e que já tem seus direitos vendidos para o México, Espanha e Estados Unidos. "A proposta era fazer textos curtos [acompanhados por ilustrações], que não encerravam a discussão mas convidavam à reflexão", diz a ilustradora sobre o cerne de seu trabalho.

Carol trata de assuntos como preconceitos, racismo e sexualidade, sempre buscando ressaltar o direito de cada uma à sua própria individualidade. "Algumas ilustrações demandaram uma pesquisa maior por eu não fazer parte do grupo de pessoas sobre as quais elas tratavam. Tive que ouvir as experiências de gente com albinismo e nanismo, por exemplo, antes de fazer os textos. Claro que todas as ilustrações envolviam uma pesquisa, mas algumas exigiam um aprofundamento maior", conta sobre sua preparação.

A artista também revela que não conseguiu condensar certos questionamentos ao formato "simples e sintético" proposto no projeto. "Alguns assuntos, especialmente os ligados a doenças mentais, acabei não conseguindo trabalhar. Há temas que precisam de ser mais elaborados e discorridos".

Como resultado do trabalho, conta que frequentemente pessoas lhe procuram para agradecer, dizendo que, de alguma forma, os desenhos fizeram diferença em suas vidas. O reconhecimento já veio inclusive internacionalmente. "Em março, dei uma palestra na IPFW, uma universidade americana, e tive uma experiência incrível quando uma garota na plateia se levantou e me contou como foi importante para ela se sentir representada através das minhas ilustrações. Mesmo tão distantes geograficamente, nós nos conectamos através do meu trabalho", recorda.

Miolo Mulheres-43Após publicar uma de suas primeiras ilustrações, aliás, já teve um retorno internacional surpreendente. Depois de conhecer a história de Whitney Thore, dançarina que engordou mais de 100 quilos por conta de uma doença e regressou à arte após dez anos de depressão, resolveu fazer um desenho em referência à celebridade. A homenagem fez tanto sucesso que a própria Whitney a compartilhou em sua página do Facebook. "Quase caí da cadeira quando vi. Ela elogiou, disse que gostou da homenagem. Foi lindo".

"O feminismo ainda é necessário"

Engajada nos direitos das mulheres, Carol se define como uma feminista interseccional, que não luta apenas contra o machismo, mas também procura formar um ambiente inclusivo para todas as mulheres, independente de suas características.

Por conta do trabalho, aliás, percebeu que a palavra "feminismo" ainda assusta muita gente. "Ao longo do tempo, alguns significados negativos foram injustamente agregados ao termo, pelo menos no imaginário popular – o que só prova o quanto o feminismo ainda é necessário. Eu acho importante combater esse preconceito, e minha forma de contribuir para isso foi falando dele através de histórias, sempre com uma linguagem não agressiva e acolhedora. Tenho certeza de que várias pessoas que acompanham meu trabalho já não têm mais uma ideia tão distorcida sobre o movimento, e isso me deixa imensamente feliz", explica.

Mas os efeitos do sexismo nos homens também estão em sua mira, apesar de não saber exatamente como irá lidar com o assunto. "Não gostaria de fazer algo que fosse como uma caricatura do projeto Mulheres". Enquanto isso, todos são bem vindos a simpatizar com o que ela faz. "Sempre convidei os homens a acompanharem meu trabalho e se envolverem tanto quanto as mulheres. Não é porque minhas personagens são femininas que pessoas de outros gêneros não podem se identificar também".

Mulheres_Maira

Mulheres_Anne e Julia

Mulheres_Clara

Mulheres_Daniela e Debora

Mulheres_Jane

 

Mulheres_Alice

Mulheres_Aline

Mulheres_Amanda

Mulheres_Ana

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.