Cinco livros para você que pede a intervenção militar

Pelas imagens dos protestos de ontem, mais uma vez tivemos uma série de manifestantes clamando pela intervenção militar. Pessoas de bem, trabalhadoras, pagadoras de impostos, que saíram de suas casas para levantar questões edificantes como "por que não mataram todos em 1964?" ou "por que não enforcaram a Dilma no DOI-Codi?". Além disso, ajoelharem no chão e imploraram para que os fardados assumam "temporariamente" o país e façam "uma faxina" por aqui para, depois, devolver o comando da nação a esse povo tão cordial, pacífico e ordeiro.

Não sei se depositam tanta esperança nos militares por ignorância histórica ou porque realmente aprovam o que a corporação fez no passado – e, quando pode, continua fazendo no presente. A esses apaixonados pelos fardados, cinco bons livros para ler:

"K.", de Bernardo Kucinski – a irmã do autor, Ana Rosa Kucinski, desapareceu com seu marido, Wilson Silva, no dia 22 de abril de 1974. No romance, Kucinski parte de sua tragédia familiar para construir a história de um pai em busca dos corpos de sua filha e de seu genro. O governo militar está no pano de fundo de toda narrativa, inspirando medo e transformando vítimas em culpados.

"Você Vai Voltar Pra Mim", também de Kucinski – aqui o autor se inspira em outras histórias reais da época da ditadura para construir em contos que, em sua totalidade mostram o clima de terror, perseguição e indiferença ao que acontecia na época. Sim, indiferença, porque a maioria das pessoas pouco se importava com os descalabros promovidos pelos militares.

"Ainda Estou Aqui", de Marcelo Rubens Paiva – recém-lançado, no livro o autor procura entender o fim que os militares deram ao seu pai, o deputado Rubens Paiva, em janeiro de 1971. O político foi alvo de boa parte dos "recursos" utilizados pela ditadura: cassado, exilado, preso e torturado, foi, por fim, assassinado pelos oficiais.

"Ditadura", de Elio Gaspari – certo, este não é apenas um livro, mas uma tetralogia composta por "Ditadura Envergonhada", "Ditadura Escancarada", "Ditadura Derrotada" e "Ditadura Encurralada". Em sua totalidade, a obra do jornalista Elio Gaspari abarca desde os anos que antecederam o golpe militar até a posse de José Sarney, primeiro presidente civil após o nefasto período.

"Rota 66", de Caco Barcellos – livro-reportagem no qual o jornalista denuncia o procedimento quase que padrão da Rota: mata quem quer matar e simula que houve uma troca de tiros que acabou vitimando o "indivíduo". Lembra que falei que poucas pessoas se importavam com os descalabros promovidos pelos fardados? Então, as atrocidades continuam acontecendo e ainda hoje pouca gente se incomoda. Bom para ver como os militares – a polícia militar, no caso – continuam com suas matanças mesmo sem estar no poder.