Cristovão Tezza e Fernanda Torres falam de família e morte em Paris
Família. Foi esse o tema que norteou a conversa entre os escritores Cristovão Tezza, João Carrascoza e Fernanda Torres, mediada por François Weigel, no Salão do Livro de Paris. "Sou um conservador a favor da família, não por conta de questões sociais ou políticas, mas porque ela é essencial para a literatura", disparou Tezza logo em sua primeira fala. O argumento é que a família oferece todos os elementos para que o escritor possa criar a sua história, principalmente por conta das transformações passadas pela instituição ao longo do tempo. "A família é o filé-mignon da literatura", sentenciou.
Falando de "O Filho Eterno", seu principal livro, no qual expõe difícil aceitação de um pai a um filho com Síndrome de Down, mostrou-se impiedoso. "A crueldade é um elemento central da literatura, pobre do escritor que tem pena dos seus personagens".
Em seguida, Fernanda falou um pouco de seu romance, "Fim", da opção por escrever sobre cinco homens à beira da morte. "A perspectiva da morte é incrível porque qualquer atitude vã da vida se torna grandiosa diante dela. O momento máximo da velhice são os cinco minutos antes da morte. Difícil arrumar um assunto tão bom como esse". Depois, afirmou que seu objetivo era "falar da inútil classe média carioca, do vazio, do seu hedonismo".
Pegando carona na fala da colega, Tezza ressaltou que o nascimento e a morte são os momentos mais significativos da vida de uma pessoa e, justamente, "os que não nos pertencem, pertencem aos outros" – à família, na maior parte das vezes.
Como era de se esperar, acabaram por falar também de outras artes. "A literatura chegou muito tarde na minha vida. Escrevi para o cinema, uma peça de teatro muito ruim, crônicas para jornal e só depois um romance. A maior ameaça que sinto para mim é dizer que escrevo. Estar sentada ao lado do Carrascoza e do Tezza é bastante ameaçador", disse Fernanda, mais conhecida por sua carreira de atriz, que, segundo ela, foi essencial para que encarasse a escrita "sem o peso de ser escritora".
Já Tezza lembrou dos seus tempos de teatro, quando tinha a arte como um projeto de vida. "Apesar de todos os defeitos, a geração dos anos 70 não era cínica, acreditava em suas utopias e, eventualmente, idiotices".
Em Paris, para a cobertura do Salão do Livro, Rodrigo Casarin está hospedado a convite da rede Accor.
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