Machado de Assis chega às escolas francesas
O maior escritor brasileiro da história enfim começa a ser trabalhado em colégios franceses. Neste ano, "Conto de Escola", que Machado de Assis publicou em em 1886, foi aprovado pelo governo da França para ser um dos possíveis livros adotados por educadores. A obra é sobre uma criança que vai à escola apenas para não apanhar do pai. Um dia, recebe a proposta do filho de um professor para que faça as lições de casa do garoto em troca de uma moeda de prata. O protagonista aceita, porém, logo é delatado por um terceiro personagem.
A partir disso, a ideia é que mestres utilizem o conto para abordarem temas como a corrupção e a delação para alunos na faixa dos 10 anos. Tal feito é resultado principalmente do trabalho do pesquisador e professor universitário brasileiro Saulo Neiva, que reside em Paris há 24 anos e dirige o projeto "Machado de Assis, le sorcier de Rio", para a divulgação da obra do escritor.
Em um primeiro momento, a equipe de Neiva atuou junto a 90 estudantes de três centros de ensino para analisar a recepção do conto. Depois, desenvolveu uma espécie de guia destinado a professores, conselheiros pedagógicos e supervisores regionais de educação de como trabalhar o texto em sala de aula. "Ninguém conhece o Machado de Assis, então, precisamos apresentá-lo. A vontade é que as crianças já passem a conhecê-lo assim que aprendem a ler", diz Neiva.
O pesquisador argumenta que levar Machado para um público que o ignora abre uma possibilidade para que os leitores tenham uma relação "mais livre" com o escritor. "Ele não é para os franceses a mesma coisa que é para gente, não tem o peso institucional que possui no Brasil". Além disso, "a dificuldade do vocabulário e do entendimento da vida no século 19 viraram mais uma oportunidade de aprendizado".
A edição francesa de "Conto de Escola" foi publicada pela editora Chandeigne. No Salão do Livro de Paris também é possível encontrar outras obras de Machado, como a edição bilíngue da coletânea de contos "Várias Histórias", publicada pela Classiques Garnier, e alguns romances que saíram pela Métalié. Ao mesmo tempo que o Brasil é homenageado no evento, o prédio da Unesco na cidade recebe uma exposição sobre o escritor.
Em Paris, para a cobertura do Salão do Livro, Rodrigo Casarin está hospedado a convite da rede Accor.
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