Marc Ferrez, o fotógrafo que registrou a escravidão e o Brasil do Império
Imagens de escravos sendo explorados, da expansão ferroviária pelo país e de cidades que ainda estavam muito longe de ser as grandes metrópoles de hoje estão entre as que mais chamam a atenção no acervo de Marc Ferrez, um dos principais fotógrafos a registrar o Brasil do século 19. Uma mostra reunindo mais de 300 itens deixados pelo carioca que nasceu em 1843 e morreu em 1923 estreia hoje no Instituto Moreira Salles de São Paulo e fica em cartaz até 21 de julho. São documentos, objetos diversos e, claro, fotos que nos ajudam a refletir inclusive sobre o país que temos hoje.
"A importância do trabalho de Ferrez reside no fato de ter documentado o Brasil do século 19, desde 1860, até o início do século 20, fazendo, portanto, a transição do Império para a República. Suas imagens registram visualmente um país em transformação, cheio de contradições, e permitem que pensemos nas contradições atuais da sociedade brasileira, sua desigualdade, todas as questões de gênero, raça…", diz Sergio Burgi, coordenador da área de Fotografia do IMS e curador de "Marc Ferrez: Território e Linguagem".
Ferrez atuou como fotógrafo oficial na comissão geológica formada pelo Império em 1875 para realizar um levantamento do território nacional, oportunidade que permitiu que se transformasse na primeira pessoa a registrar em imagens diversas regiões do país. Também mirou suas lentes para o desenvolvimento da ciência e da engenharia no Brasil, além de seguir de perto diversos empresários da época. Fotografando as fazendas de café no vale do Paraíba, no interior de São Paulo, que mostra como os barões exploravam a mão de obra escrava de homens, mulheres e crianças.
Burgi ainda destaca que Ferrez nos ajuda a entender o crescimento da importância da imagem em nossa sociedade. "Sua trajetória acompanha as próprias transformações no campo da imagem, e talvez isso seja o mais relevante em relação aos dias de hoje. É naquele momento que se formam todas as condições para que a imagem passe a ter o papel que teve na sociedade ao longo do século 20 e mesmo agora no século 21. Esse fenômeno atual da imagem na cultura tem suas raízes exatamente no período da carreira do Ferrez".
Além da mostra, o IMS também está lançando o livro "Marc Ferrez. Uma Cronologia da Vida e da Obra", de Ileana Pradila Ceron, responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia do instituto.
Veja fotos que, como as duas acima, foram feitas por Marc Ferrez (clique nas imagens para ampliá-las):
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