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Saiba quais foram as últimas guerras travadas entre países sul-americanos

Rodrigo Casarin

27/02/2019 10h55

Militares peruanos recebem a visita do então presidente Alberto Fujimori durante a Guerra de Cenepa.

A coisa anda feia nas fronteiras do Brasil com a Venezuela e, principalmente, da Venezuela com a Colômbia. Há algumas semanas que a possibilidade de termos uma guerra na América do Sul virou uma pauta constante nos noticiários. Apesar de nossos problemas sociais que às vezes descambam para sérios conflitos internos – a luta de colombianos contra as Farcs, por exemplo, ou de peruanos contra o Sendero Luminoso, retratada em excelente graphic novel de Alfredo Villar, Luis Rossell e Jesús Cossío -, guerras entre países neste canto do mundo não é algo comum.

Há animosidades, claro. Argentinos e chilenos não se bicam há tempos. Quase quebraram o pau no final da década de 1970 por causa de algumas ilhas no sul do continente e passaram a trocar olhares ainda mais tortos depois que o Chile deu uma força para a Inglaterra durante a Guerra das Malvinas. A própria Venezuela tem suas diferenças com alguns vizinhos: estica o olho para uma boa área da Guiana rica em petróleo e, pela mesma razão, discute com os colombianos por uma região no golfo do Caribe. Só que entre desavenças e as vias de fato, sabemos, existe uma distância gigantesca.

O último pega pra capar mesmo aconteceu no começo de 1995, quando Peru e Equador transformaram em guerra um conflito que já se arrastava há mais de século. Exércitos dos dois países digladiaram na Cordilheira do Condor, cada um buscando expandir as próprias fronteiras numa região potencialmente repleta de riquezas. Não se sabe exatamente quantos mortos o bololô conhecido como Guerra de Cenepa deixou – estima-se que tenha ficado entre algumas dezenas e poucas centenas. Um tratado de paz entre os dois países só foi ser assinado em 1998.

Mais de 60 anos antes, em 1932, Paraguai e Bolívia se confrontaram deixando uma carnificina digna das grandes guerras, com cerca de 90 mil corpos no total. O embate envolveu mais de meio milhão de homens e se deu na região do Chaco – não por acaso, o conflito que durou três anos passou a ser chamado de Guerra do Chaco. Os paraguaios levaram a melhor, ficaram com o território e deixaram os bolivianos na pindaíba. E por que as duas nações queriam aquele pedaço de terra? O título de um livro do pesquisador Julio José Chiavenato publicado pela extinta Brasiliense dá uma boa pista: "A Guerra do Chaco (Leia-se Petróleo)".

Praticamente no mesmo período da Guerra do Chaco, peruanos e colombianos se engalfinhavam em Letícia, canto amazônico que atualmente pertence à Colômbia e é marcada por fazer parte de uma tríplice fronteira. Além do país que hoje a detém e do que por ela brigava, o Brasil também está colado à cidade, palco de uma guerra muitas vezes esquecida.

Indo para o século retrasado, dois grandes conflitos merecem entrar nesse apanhado. A Guerra do Pacífico envolveu peruanos e bolivianos contra chilenos, sendo que estes saíram vitoriosos. Pra variar, quem seu deu muito mal foi a Bolívia, que perdeu o território que lhe concedia acesso ao mar, algo que até hoje tenta recuperar. Parte do histórico e das negociações que bolivianos e peruanos travaram após o conflito estão registradas em "Peru Versus Bolívia", livro do jornalista Euclides da Cunha, homenageado da Flip deste ano.

Já a extremamente sanguinolenta Guerra do Paraguai, o mais famoso dos conflitos da América do Sul (ao menos para nós), ganhou interessante olhar por meio de uma ficção de José Roberto Torero. Em "Xadrez, Truco e Outras Guerras", volume sobre a ira da clássica coleção "Plenos Pecados", o escritor usa sua conhecida verve sarcástica para reconstruir e imaginar situações da carnificina que envolveu brasileiros, paraguaios, argentinos e uruguaios.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.