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Livro de Fernando Rocha sobre vida saudável é declaração de amor à cerveja

Rodrigo Casarin

22/08/2018 10h36

Fernando Rocha é dos meus. Não conhecia o apresentador do programa "Bem Estar", da Globo. Quer dizer, já tinha visto um meme ou outro dele circulando pela internet, mas não fazia ideia de sua trajetória recente. Peguei, então, para ler o livro que acaba de lançar: "Na Medida do Possível (Ou Quase)" (Best Seller), no qual fala sobre como perdeu 20 quilos – e recuperou outros cinco. Como ainda passo por processo semelhante, acabo me interessando por relatos do tipo.

Como esperado, estamos falando de um livro que é cheio de lugares comuns. Um exemplo: "Naquele ano de estreia no mundo das corridas fui o grande vencedor. Sim! Na minha categoria eu cheguei em primeiro lugar. É verdade! Porque nessa minha categoria só tem eu!". Também estamos falando de um livro que traz dicas para quem quer emagrecer: "seja mais forte do que suas desculpas", "repare na oferta de alimentos a sua volta", "coloque em ação o projeto dez mil passos por dia"… É uma obra que agradará fãs do apresentador e, quem sabe, pessoas que buscam inspiração para derreter alguns quilos de gordura, não leitores mais exigentes – que nem me parecem ser o foco do autor.

Disse, contudo, que o apresentador é dos meus. E digo isso não apenas pela história com a balança, mas pela mensagem velada que o jornalista transmite no livro. Mais do que um relato sobre emagrecimento, sobre os passos tortos e apaixonados na dança e as lembranças de momentos marcantes de sua profissão, "Na Medida do Possível" é uma verdadeira declaração de amor de Fernando Rocha à cerveja. Empatia imediata por parte deste que lhes escreve.

"Em minha lista enorme das melhores coisas que existem neste mundo estão: conversa de boteco, mesa de bar, tira-gosto, costelinha frita e cerveja de garrafa – aliás, sempre deixo claro que cerveja long neck não é de garrafa, e chope, muito menos", escreve o autor logo no começo do primeiro capítulo. Melhor do que isso, só se a cerveja de garrafa for gelada direto no gelo, não na geladeira – tá certo que também não abro mão de uma boa ESB ou stout na pressão. Logo em seguida, Fernando sai em defesa da bebida: "Nutricionistas e endocrinologistas adoram dizer que o álcool é uma caloria vazia. É verdade verdadeira, apesar de considerar uma injustiça não só com a cerveja, mas com o vinho, com o rum, com a tequila…".

Depois, quando começa a progredir na corrida, relata que coroava seus treinos com uma cerveja gelada e uma bisteca gigante. Quando resolve finalmente levar a dieta a sério (até demais pro meu gosto) e corta o álcool por alguns meses, nota algo novo em sua vida. "Foi com o regime que eu descobri quanta coisa podia me oferecer um sábado sóbrio, e como um domingo tranquilo ajuda na chatice inevitável da segunda-feira sem ressaca. Faz todo o sentido, a vida fica mesmo muito melhor sem ressaca".

Só que as grandes paixões resistem a esses períodos de distanciamento. Se Fernando Rocha não via a hora de tirar férias e viajar para Berlim para tomar umas "cervejas comportadas", comovente mesmo é quando o apresentador encontra sua psicóloga para redefinirem os caminhos da dieta. Agora ele poderia tomar uma ou outra no final de semana, só precisava estabelecer qual seria o limite para que jamais extrapolasse:

"Quantas cervejas?", pergunta a psicóloga.

"Quarenta cervejas", responde Fernando, ainda que em tom de brincadeira.

"O quê? Quarenta cervejas no fim de semana? De latinha ou de garrafa?"

Claro que o exagero se referia a cervejas de garrafa. É aí que o autor ouve as palavras quase mágicas:

"Pode ser. Que sejam quarenta. Mas, se forem quarenta e uma cervejas, já é falta de controle. E você vai se perder, entendeu?"

Segundo Fernando, indícios apontam que ele jamais chegou a tal número. "Nunca cheguei a quarenta cervejas – mas também nunca contei, então, consequentemente, nunca perdi o controle".

Indo além do goró, algumas percepções de Fernando também batem com as minhas: é preciso lutar contra o pensamento de gordo, quase sempre é possível ir de um ponto a outro da cidade caminhando, o que já ajuda pra caramba quem é sedentário, e o importante é achar o próprio ritmo, o tal equilíbrio entre exercícios físicos que deem prazer e uma alimentação com pouco sebo pelo menos durante a semana. Além disso, deixo aqui as oportunas palavras dele sobre bicicletas e as ciclovias, ainda que haja certo exagero no final:

"Além do tênis em Ibiúna, durante a semana, adotei radicalmente a bicicleta como meio de transporte. Em média são trinta e cinco quilômetros de pedal todos os dias. Aproveitando a trajetória de 90% da ciclovia que existe entre a região da Avenida Paulista e Vila Mariana até a Avenida Chucri Zaidan, em frente a TV Globo. É um convite de qualidade de vida para ajudar a aliviar o trânsito caótico de nossa cidade, que tem oito milhões de automóveis. Ciclovia e bicicleta não podem ser apenas assuntos políticos. São questões importantíssimas de mobilidade urbana. Mais cedo ou mas tarde, essas duas rodas com pedal vão salvar o planeta".

Obs: Se alguém for comprar o livro, vale dar uma olhada na página 92, que no meu exemplar está com problemas de impressão, com algumas palavras apagadas.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.