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Peculiaridades e diversidade cultural: Flip de 2018 promete ser muito boa

Rodrigo Casarin

05/06/2018 15h41

Anunciada há pouco, é muito boa a programação da 16ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que neste ano acontecerá entre os dias 25 e 29 de julho. O evento começa com a promessa de um daqueles momentos memoráveis: a atriz Fernanda Montenegro (que me parece ser uma das raras unanimidades que ainda restam no país) lendo versos de Hilda Hilst, a homenageada da vez, na companhia musical de Jocy de Oliveira.

Na quinta-feira, o primeiro dia para valer, duas mesas marcadas por peculiaridades. Na primeira, uma conversa entre a cineasta Gabriela Greeb e o designer português Vasco Pimentel sobre os registros deixados por Hilda em suas tentativas de escutar os mortos. Na segunda, atenções voltadas à portuguesa Maria Teresa Horta, cuja participação acontecerá por vídeo porque a autora não anda de avião – e as opções via barco da Europa para cá se mostraram um tanto inviáveis.

Não esmiuçarei toda a programação, que já está disponível no site da Flip, mas algumas mesas parecem valer especialmente a pena, enquanto o perfil dos autores evidencia que as atenções estarão voltadas para certos temas. No primeiro campo, o papo com Christopher de Hamel sobre religião, magia e luxúria na Idade Média deverá ser bastante rico, enquanto a mesa Animal Agonizante, com Sérgio Sant'Anna, um dos nossos grandes escritores em atividade, é indiscutivelmente um dos maiores acertos da programação.

Tematicamente se aproximam autoras como a argentina Selva Almada, do excelente "O Vento que Arrasa" e do recém-lançado "Garotas Mortas", sobre o feminicídio em seu país, Djamila Ribeiro, filósofa e ativista feminista, com quem Selva dividirá a mesa, e a russa Liudmila Petruchévskaia, reprimida por décadas durante o regime stalinista. Todas de alguma forma tratam da violência, em especial contra a mulher. Já Igiaba Scego, italiana filha de imigrantes da Somália, Alain Mabanckou, premiado romancista franco-angolês, André Aciman, judeu americano de origem egípcia, e Leila Slimani, francesa de origem marroquina, compõem um bem-vindo time que dialoga com a cultura africana.

Aliás, outra bola dentro da curadoria de Josélia Aguiar é olhar com mais carinho para autores que estejam além do umbigo da língua inglesa. Outro ponto interessante dessa edição da Flip, cujo orçamento deverá ser entre R$500 mil e R$1 milhão menor do que no ano passado (quando trabalharam com aproximadamente R$5,8 milhões), é o aumento das casas parceiras, cujas programações acontecem em paralelo ao evento principal e que fazem com que a Festa tenha todo o corpo que tem: se no ano passado foram 8 espaços do tipo, para este ano a informação é que, por ora, 20 parcerias já estão firmadas.

Um jogo rápido? Vamos lá! O melhor dia do evento: quinta-feira. Duas mesas imperdíveis: Animal Agonizante, com Sérgio Sant'Anna e Gustavo Pacheco, e No Pomar do Incomum, com Liudmila Petruchévskaia. Três mesas que podem surpreender muita gente: Amada Vida, com Selva Almada e Djamila Ribeiro, O Poder na Alcova, com Simon Sebag Montefiore, e Obscena, de Tão Lúcida, com Isabela Figueiredo e Juliano Garcia Pessanha.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.