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Oral? Sem chances! O que era permitido para o sexo na Idade Média?

Rodrigo Casarin

10/05/2018 10h37

Não era fácil fazer sexo durante a Idade Média na Europa, ao menos se você quisesse seguir todas as regras impostas pela Igreja Católica e que vigoravam como lei em muitos estados. Ou melhor, fácil até era, mas devia ser de uma monotonia absurda e exigia que os casais estivessem atentos a alguns detalhes. Se fossem à cama durante certas festividades, na noite de domingo ou enquanto a mulher estivesse grávida ou no período menstrual, depois precisariam fazer penitência vivendo somente de pão e água por alguns dias. As posições permitidas ao coito, por sua vez, limitavam sobremaneira qualquer estrepolia.

Alberto Magno, filósofo santificado pela Igreja, chegou a elencar e dar seu parecer sobre cinco posições: missionário (o famoso papai e mamãe), lado a lado, sentado, em pé e por trás. A primeira, o papai e mamãe, era a única que considerava natural; acreditava ser a mais favorável à fecundação, a única finalidade do sexo naqueles tempos pretensiosamente castos. As outras quatro eram, na visão do liberal Alberto, moralmente discutíveis, mas a opinião dominante na época ia além e as considerava execráveis, praticamente um pecado mortal.

Com o sexo orientado somente à reprodução da espécie, qualquer coisa que indicasse algo diferente desse finalidade – como o prazer – era condenado pelas autoridades eclesiásticas, aponta a historiadora italiana e especialista na época medieval Elena Percivaldi em "A Vida Secreta da Idade Média", livro que acaba de ser lançado no país pela Vozes. "Eram demonizadas seja a posição com a mulher por cima do homem, que ademais carregava a 'pecha' de subverter os papéis, quanto a penetração a tergo, isto é, por trás, porque evocava o coito dos animais", registra a autora. Sexo oral ou anal, então, sem chances, afinal, "ambos não eram voltados para a procriação".

Na obra a autora investiga os pormenores da vida no período que se iniciou em 476 d.C., durou cerca de mil anos e, por conta do obscurantismo muitas vezes a ele associado, ficou também conhecido como a Idade das Trevas. O que as pessoas comiam e bebiam? Como se vestiam? Como lidavam com a religião e a constante presença da Igreja? Como se divertiam? E, claro, como usufruíam dos prazeres da vida? Aliás, mais do que isso, quais eram esses prazeres?

Elena aponta que a preocupação com o sexo impactava até na dieta de certos membros da Igreja, que deveriam abolir os gozos terrenos. "Em geral, aos eclesiásticos se recomendava o jejum ou uma alimentação baseada em vegetais – melhor ainda se crus – porque equivalia a renunciar aos prazeres do mundo. Acreditava-se, particularmente, que comer (e beber) desmedidamente favorecesse o calor do corpo e, portanto, o impulso sexual". Nesse sentido, é ótima uma passagem de São Pedro Damião resgatada pela autora: "Os genitais são incitados ao acasalamento com maior ardor quanto mais o estômago é enchido com abundância de alimentos e muitos goles de bebidas".

Também chamam a atenção momentos do livro que parecem retratar costumes não muito diferentes do que temos nos dias de hoje, como a discrepância no tratamento dedicado a mulheres e homens adúlteros:

"Se o pulador de cerca era do sexo masculino, podia-se até colocar panos quentes. Mas se era uma mulher, a questão era decididamente problemática. Em linha de princípio, as mulheres eram trancadas no convento. Mas eram previstas algumas penas mais ou menos 'espetaculares', como a fustigação pública, a exposição ao público, escárnio e a raspagem dos cabelos até o crânio. O marido podia, então, decidir entre repudiar a mulher trancafiando-a em um convento ou retomá-la consigo. As normativas eclesiásticas costumavam chamar à atenção para o caráter da mulher como tentadora e, portanto, as punições reservadas a ela eram mais pesadas".

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.