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Tiro e bomba: fotos mostram que o jogo político do país sempre foi violento

Rodrigo Casarin

09/05/2018 10h45

Campanella Neto. Revolta de Aragarças: Rendição de amotinados. Aragarças, GO, dez. 1959. Arquivo digital. Campanella Neto/CPDOC JB.

Tiros contra uma caravana, tiros contra um acampamento, chicotada em manifestantes, um homem escorraçado até tropeçar, bater com a cabeça em um caminhão e sofrer traumatismo craniano. Brigas com socos, mastros de bandeiras e pedaços de pau. Não há dúvidas de que, além de delicada, a situação política brasileira de momento é bastante violenta.

Engane-se, no entanto, quem pensa ser uma novidades por aqui essas ações extremas vinculadas à política (sim, há muita gente por aí que ainda acredita que o brasileiro é um povo pacífico). As imagens presentes na mostra "Conflitos: Fotografia e Violência Política no Brasil 1889-1964" comprovam que nosso ambiente político proporciona cenas chocantes e lamentáveis há mais de cem anos.

A exposição, que ficou em cartaz no Rio de Janeiro entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano, abre hoje para o público no Instituto Moreira Sales (IMS) de São Paulo, na avenida Paulista, onde fica até o dia 29 de julho (mais informações aqui). Com 338 imagens pertencentes a 30 coleções diferentes, públicas e particulares, o trabalho é resultado de pesquisas feitas pela cientista política Angela Alonso, as historiadoras Heloisa Starling e Angela Castro Gomes e o pesquisador Vladimir Sacchetta. As informações presentes na mostra também estão disponíveis no livro-catálogo homônimo, um precioso registro histórico sobre o país.

Fotógrafo desconhecido. Suicídio de Getúlio Vargas: Motins. População ataca veículos de O Globo. Rio de Janeiro, 24.08.1954. Fotografia/papel, gelatina/prata, 18 x 24 cm. Agência O Globo.

"Se você aprendeu na escola que este é um país pacífico e conciliador, nas próximas páginas vai desaprender. Aqui se descortina uma sociedade de faca, tiro e bomba. Não pense que se fala de um mundo à parte, o dos 'marginais'. É do coração da República que se trata. São brigas de gente grande, pelo controle do Estado nacional, que chegaram às vias de fato. Os confrontos armados envolvendo governo e Exército bordam nossa história com alta frequência e virulência. Existiram na colônia, ao longo de todo o Império, e existem ainda", registra Angela Alonso no texto que serve de introdução ao livro.

Dentre os momentos retratados na exposição e no livro estão motins populares, guerras civis e conflitos armados como a Revolução Federalista, a Revolta da Armada, a Guerra de Canudos e a Revolução de 1930. O panorama apresentado se inicial com a Proclamação da República e se encerra com o golpe militar e 1964. Veja algumas das imagens:

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Flávio de Barros. Guerra de Canudos: "Prisão de jagunços pela cavalaria" (legenda original atribuída pelo autor). Canudos, BA, 1897. Arquivo digital. Acervo Instituto Moreira Salles/ Museu da República.

Flávio de Barros. Guerra de Canudos: "400 jagunços prisioneiros" (legenda original atribuída pelo autor). Canudos, BA, 1897. Arquivo digital. Acervo Instituto Moreira Salles/ Museu da República.

Fotógrafo desconhecido. Maria Bonita. C. 1936. Fotografia/papel, gelatina/prata, 9,2 x 12,4 cm. Coleção Ruy Souza e Silva.

Fotógrafo desconhecido. Coluna Miguel Costa-Prestes. Guaíra, PR, nov. 1924. Fotografia/papel, gelatina/prata, 9 x 12 cm. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil.

Fotógrafo desconhecido. Polícia contém avanço da massa durante o Comício das Reformas. Rio de Janeiro, 13.03.1964. Fotografia/papel, gelatina/prata, 29,6 x 24,3 cm. Coleção Diários Associados – Rio de Janeiro/Acervo Instituto Moreira Salles.

Claro Jansson. Guerra do Contestado: Vaqueanos da Serraria Lumber. Três Barras, SC, 1915. Gelatina/prata. Coleção Jandira Jansson.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.