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Cacau Oliver: criador do Miss Bumbum e máquina de forjar (sub)celebridades

Rodrigo Casarin

19/04/2018 09h31

"Jamais diga que quer ser famoso".

"Não discrimine ninguém: quem hoje é anônimo amanhã poderá ser a celebridade do momento".

"Quando não souber o que dizer, sorria".

Acabou? Não, tem mais: "O primeiro passo é pensar em si mesma como um produto que, para entrar no mercado, precisa ter uma embalagem bacana que atenda ao público, um conteúdo razoável e uma boa dose de carisma. No primeiro momento, a embalagem é o mais importante".

Essas são algumas das dicas de Cacau Oliver para quem deseja alcançar a fama.

Oliver é a máquina de fazer celebridades – ou subcelebridades – por trás de baluartes como as Peladonas de Bush e de Congonhas. Seu papel é pegar pessoas anônimas – quase sempre mulheres – que sonham com o estrelato, que querem a fama pela fama, e transformá-las em um produto que será vorazmente consumido pela mídia e pelo público.

Assessor e empresário, afirma que de suas mãos já saíram pelo menos 116 capas de revistas masculinas que circularam no Brasil e no exterior. É também o criador de concursos como o Gata do Paulistão e o Miss Bumbum, que define como a ousadia que mudou sua vida e o oposto do Miss Brasil, com candidatas "saradas, siliconadas, autênticas e, algumas, barraqueiras. Enfim, mulheres normais, das mais diversas profissões, etnias e culturas". Segundo o criador, a criatura – o certame, no caso – "pode ser apelativo, pode parecer vulgar, mas não é de mal gosto". No momento, Oliver também trabalha em um reality show sobre sua carreira, uma proposta que diz ser inédita "porque sou o único profissional do mundo a transformar anônimos em celebridades".

Peladona do Bush.

"Se tivesse que eleger um ídolo, escolheria a mim mesmo"

A trajetória profissional de Oliver está em "Make Celebrities – Criando Fama", livro publicado pela Biografia Editora. Ao longo do texto – marcado por um estilo sofrível e problemas de revisão -, o destaque vai para a mistura de cara de pau e coragem do empresário. Desde o início de sua própria agência, Oliver parece sempre ter dado um jeito de fazer as coisas acontecerem, nem que para isso tenha que submeter suas candidatas ao estrelato a situações no mínimo constrangedoras, como armar um tombo em certo aeroporto para garantir cliques de fotógrafos. O título ainda é uma coleção de clichês como este: "Não desistam dos seus sonhos, não antes de tentar realizá-los! Se for realmente o que você quer, vá à luta, mostre a cara, se empenha ao máximo para transformá-lo em realidade".

Na autobiografia também fica evidente o desejo de Oliver se apresentar como uma pessoa pouco vaidosa. "Gosto de ser o anônimo por trás das celebridades que crio. Gosto dos burburinhos gerados pelas notícias que produzimos quando elas ocupam as primeiras páginas de sites, jornais, revistas e são destaques em programas de rádio e de televisão", escreve.

No entanto, diversos trechos evidenciam o contrário e acabam se transformando em passagens de humor involuntário. "Não tenho dúvidas que minha aptidão para a indústria do entretenimento seja inata", crava, e também se avalia como "fruto das minhas ousadias". Além disso, mira com orgulho o próprio umbigo: "Neste momento, enquanto me debruço sobre as páginas deste livro, penso que, se tivesse que eleger um ídolo, escolheria a mim mesmo. E não é por narcisismo, não. Tenho muito orgulho da história que estou escrevendo".

Peladona de Congonhas.

Engrenagens

Por outro lado, Oliver vai bem ao expor as engrenagens do seu próprio ramo. Se na faculdade de jornalismo já assumia a admiração por Nelson Rubens quando alguém perguntava qual perfil de profissional lhe inspirava, também é honesto em assumir que trabalha principalmente com factoides. Suas assessoradas, aliás, são acima de tudo personagens desenhadas pelo próprio Oliver. "A receita do bolo é simples: estudo a candidata, avalio os pontos fortes, traço um perfil, elaboro uma história e dou a ela vida por meio de uma ação que a projete na mídia".

Nesse sentido, também deixa claro que joga para o público: "O termômetro sempre foi a audiência. Não vou entrar no mérito da qualidade dos programas. Gosto de pensar que a liberdade está no acesso à informação e na democracia. É possível mudar de canal, não clicar nos links das notícias e, o mais interessante, 'descurtir', deixar de seguir nas redes sociais ou usar o espaço de comentários para manifestar opinião. Profissionalmente, recomendo não ter medo de crítica. Se alguém criticou é porque, de alguma maneira, teve acesso ao conteúdo que você produziu. Raramente, um assunto 'viraliza' sem causar polêmica".

Ainda vale ressaltar que quem for ler a história de vida de Oliver em busca de fofocas ou barracos, provavelmente irá se decepcionar. O autor raramente cita nomes e dispara algumas pedras somente contra Xuxa, que lhe foi uma desagradável interlocutora em um programa de televisão, garante.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.