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Grande desafio: livraria quer ser vitrine europeia para autores brasileiros

Rodrigo Casarin

15/02/2018 09h10

Levar para a Europa, principalmente para o Reino Unido, autores brasileiros contemporâneos como Luciana Hidalgo, André Timm, Cristina Judar, Jeferson Tenório e Lucia Bittencourt. É essa a proposta da Capitolina, livraria virtual inaugurada em meados do ano passado – o nome é uma homenagem a Maria Capitolina Santiago, a Capitu, estrela de "Dom Casmurro", uma das personagens mais famosas de Machado de Assis e de toda a literatura nacional.

Quem encabeça a iniciativa é Nara Vidal, que mora na Inglaterra desde 2001. Autora de "A Loucura dos Outros" (Reformatório) e prestes a publicar "Sorte" (Moinhos), romance histórico que transita entre a Irlanda do século 19 e Minas Gerais, Nara notou que nomes como Machado, Clarice Lispector, Jorge Amado e Lima Barreto eram relativamente conhecidos dos ingleses, que, no entanto, praticamente nada sabiam sobre a atual literatura brasileira.

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"Quero mostrar o que tem sido feito de literatura independente, não comercial, atualmente no Brasil. Hoje, numa livraria daqui, você às vezes encontra os clássicos da língua portuguesa, mas nunca há espaço para os escritores que não são famosos e para as pequenas editoras", diz a livreira ao blog.

Funcionando a partir de um quarto da casa de Nara, a Capitolina conta hoje com um catálogo de aproximadamente 100 obras de editoras como Reformatório, Passavento, Demônio Negro, Edith, Oito e Meio e Realejo. É da Realejo, aliás, o livro de maior sucesso da casa: "Não Me Deixe Aqui Rindo Sozinho", de André Laurentino, título que Nara define como "engraçado, com crônicas muito curtas que prendem a atenção do leitor, daqueles que você pode levar para a praia".

Nara Vidal.

No Reino Unido, a imensa maioria dos livros consumidos é originalmente escrita em inglês e, quando há interesse por traduções, normalmente a procura é por edições de grandes casas. Então, os desafios para uma livraria que vende títulos de editoras e autores desconhecidos, escritos em uma língua estrangeira, são gigantescos. Consciente disso, Nara reconhece que o papel da Capitolina é muito mais servir de vitrine para os escritores brasileiros no exterior do que um projeto que movimentará grandes cifras.

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"A Capitolina é um negócio minúsculo, mas com coisas interessantes. Temos tido algumas encomendas de editores europeus que às vezes se comunicam para saber mais sobre alguns autores. Digo isso porque tenho, às vezes, a sensação de que nada acontece, que é um negócio tão específico que não é possível chegar a muitos lugares. Mas devagar vamos chegando. Sempre fui muito clara em relação à proposta: serviríamos de vitrine muito mais do que local de comercialização de livros. Com os pés firmes no chão e colaboração de um monte de gente legal e talentosa, disponibilizamos muita qualidade, mas não quantidade".

Dentre os resultados que apareceram, alguns animadores. Nara já conseguiu notar um público interessado em seu trabalho frente à Capitolina: a comunidade brasileira que vive na Inglaterra, professores universitários de língua portuguesa e ingleses que, por algum motivo, resolveram estudar português. Além disso, editores europeus já se interessaram por traduzir escritores que descobriram graças à livraria, conta. "Então, vejo que a Capitolina, pequena do jeito que é, cumpre o papel de deixar exposto o que eu considero de qualidade".

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.