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Ler um livro é realmente melhor do que assistir televisão?

Rodrigo Casarin

02/02/2018 10h40

"Desligue a televisão e vá ler um livro".

Lembro-me de quando a MTV interrompia sua programação na hora do almoço para deixar essa mensagem na tela durante uns 15 minutos. Não sei se alguém seguia o conselho da emissora; eu achava algum programa de esportes que estivesse falando sobre futebol e continuava batendo meu prato de arroz e feijão. Assistir a menos TV e ler mais, no entanto, parece uma daquelas dicas preciosas que a maioria das pessoas gostaria de colocar em prática – e algo de que os leitores assíduos adoram se vangloriar. Mas ler é realmente melhor do que ver televisão?

Me parece que não há muitas dúvidas que entre ficar prostrado abobalhadamente na frente do aparelho acompanhando algum programa de fofoca ou um Top Game da vida e ler, digamos, "A Divina Comédia", de Dante Alighieri, um monumento da literatura italiana, a leitura leva uma clara vantagem intelectual. Entretanto, a vida não é feita apenas desses extremos, não é mesmo?

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Invertamos drasticamente os exemplos: o que é melhor, ler o monte de baboseiras desconexas escritas por Bruno Borges, mais conhecido como "O Menino do Acre", em "Teoria da Absorção do Conhecimento" ou assistir algo como o magnífico filme argentino "O Segredo dos Seus Olhos", que recentemente passou em não lembro qual canal da TV aberta? Se sairmos das emissoras, abrirmos um pouco mais o leque de possibilidades que as televisões modernas oferecem e acessarmos os serviços de streaming, a quantidade de programas que valem muito mais a pena dedicarmos nosso tempo do que uma série de livros banais – ou dividi-los com uma infinidade de grandes obras literárias – aumenta vertiginosamente.

Tirinha do WillTirando.

Com isso eu quero te convencer a desistir de ler e passar mais tempo na frente da TV? É óbvio que não. Quero apenas mostrar que você não precisa ser um eremita que sequer tem energia elétrica em casa para ser um bom leitor. Quero apenas mostrar que o conteúdo que você consome é mais importante do que a mídia na qual ele está inserido.

Acho mesmo que você tem mais a ganhar assistindo a uma temporada de "Black Mirror" ou revendo episódios de "Provocações", do saudoso Antônio Abujamra, do que lendo o sofrível "Cinquenta Tons de Cinza". Mas você tem ainda mais a ganhar se assistir a "Black Mirror" e também ler "A Divina Comédia" que citei há pouco. Busque transitar entre as mídias e aproveitar o que cada uma oferece de melhor, dessa forma que você estará em constante contato o que te faz refletir, conhecer outras culturas, imaginar novas possibilidades para a realidade, confrontar suas grandes convicções…

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Sim, a leitura é fundamental. Nenhuma outra mídia estimula tanto nossa imaginação e tem tanta capacidade de nos fazer imergir em outros universos durante longos períodos de tempo (não apenas algumas poucas horas) quanto um livro. Nenhuma outra forma de narrativa exige mais do nosso próprio esforço quanto a literária, a começar pelo esforço de nos desconectarmos de toda a parafernália tecnológica que nos cerca – mesmo quando estamos lendo em um leitor digital. Mas isso não quer dizer que toda história impressa em folhas de papel seja necessariamente superior.

Então, repito a pergunta: ler é realmente melhor do que ver televisão? Nem sempre. Vai depender do que você lerá. Vai depender do que você assistirá na TV.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.