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Quer barraco, manipulação e sexo? Esqueça o Big Brother e veja essas dicas

Rodrigo Casarin

30/01/2018 09h54

Bicho pegando em alguma edição do BBB.

Pessoas xingando as outras de todos os nomes possíveis. Casais se agarrando sob edredons ou partes íntimas escapando das roupas na hora do banho. Participantes que ficam falando mal de colegas da casa pelas costas e que tramam a melhor maneira de botar para fora do programa seus desafetos ou principais concorrentes. Até pelo tom das notícias relacionadas ao Big Brother, quem assiste ao reality show procura, basicamente, por tramoias e manipulações, barracos escandalosos e alguma migalha de sexo. Pois se querem tudo isso, aqui lhes dou tudo isso, só que em livros.

Começando pelos barracos, que tal "Viva La Vida Tosca" (Darkside), a autobiografia que João Gordo escreveu com a ajuda do jornalista André Barcinski? Como não é difícil de supor, o livro está cheio das confusões que Gordo arrumou ao longo da vida. Aqui, um trecho daquela que talvez seja a mais clássica de todas, a entre ele e o ator Dado Dolabella durante o programa "Gordo a Go-Go". Dado tira uma machadinha de uma maleta e João lhe questiona: "Você costuma usar isso nas pessoas?". Então, desenrola-se:

"Dado: Costumo!
João: Você trouxe isso pra eu enfiar no seu rabo?
Dado: Na verdade, isso aqui vai ficar na minha mão, se a gente tiver um problema […] Pô, eu era teu fã, mas tu traiu o movimento.
João: Que movimento, playboy?
Dado: O movimento punk!
João: Quem é você, seu playboyzinho de m…, pra falar de movimento punk?
João bate com cassetete na mesa. Dado bate com a machadinha e racha a mesa de vidro. João e Dado levantam e se encaram, e o clima esquenta. João pega uma corrente. Membros da equipe de imagem apartam a briga.
João: Vai se f…!
Dado: Te mato" – as reticências são minhas, os xingamentos desse barraco de respeito estão registrados com a devida precisão na obra.

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Outro livro com discussões dignas de nota é "Laços" (Todavia), do italiano Domenico Starnone, que retrata a impossibilidade de um casal reconstruir certa normalidade conjugal após uma traição e de como isso acaba refletindo na criação dos filhos – falei mais sobre o ótimo título aqui. Eis uma memorável patada da mulher no marido que passa a maior parte de seu tempo com a amante:

"- Você quer continuar sendo pai?
– Quero.
– Como? Aparecendo uma ou duas vezes para espetar a faca na ferida e depois sumir por meses? Ressuscitando os filhos quando você quer, só quando você quer?
– Virei vê-los todo fim de semana.
– Ah, virá vê-los. Quer dizer que eles ficam comigo?
– Bem, também posso ficar um pouco com eles.
– Também? Também? – gritou. – Eu fico sempre com ele e você também? Quer destruí-los como está fazendo comigo? Os filhos precisam dos pais não também, mas sempre".

Já para quem curte as tramoias, recomendo fortemente a leitura de "Joseph Fouché", de Stefan Zweig. Político francês de carreira, Napoleão chegou a chamar Fouché de "o traidor perfeito", tamanha a quantidade de conspirações nas quais o "Carniceiro de Lyon", outra alcunha do manipulador, se envolveu; poucos seguiram tão à risca os ensinamentos de Maquiavel quanto ele – falei mais a respeito aqui.

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Outra boa obra que revela as articulações que ajudam a ditar os caminhos que a história toma é "O Papa e Mussolini" (Intrínseca), de David Kertzer. Livro-reportagem vencedor do Prêmio Pulitzer de 2015, a obra mostra como o Papa Pio XI não só foi conivente, mas colaborou para que Benito Mussolini assumisse o poder na Itália, contribuindo diretamente para que o fascismo tomasse a proporção que tomou.

Enfim, é sexo que você quer? Então vá de "Bitch" (Record), de Carol Teixeira, e "Romanxorcismo" (Penalux), de Marcia Dallari. O primeiro, romance que Xico Sá define como uma mistura entre George Bataille, um dos principais nomes da literatura erótica, "e os filmes amadores no Xvideos" – para quem não sabe, Xvideos é um dos sites pornográficos mais famosos da internet. Acompanhando a vida de Princess, uma artista de 26 anos que coleciona formas de prazer, cada página da história é repleta de sensualidade.

Já "Romanxorcismo" é um volume de contos um tanto irregular, mas que abre com uma boa narrativa. Em "Codex Sexus", Marcia imagina uma garota que, em uma festa, é levada para um canto secreto da casa onde acontece uma suruba. Ali, deve ignorar preconceitos e não ficar encanada com qualquer tipo de culpa. "Quando os homens se cansaram de mim, deixaram-me com o corpo ainda insatisfeito. Gozar sempre fora um ápice pouco conquistado e sob efeito de drogas não seria mais fácil. Ainda nua, caminhei pela sala procurando que me saciasse", registra a narradora. Acho que o leitor já pode ter uma ideia de que na história acontecem muito mais coisas do que um simples edredom que fica se remexendo.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.