“Vou defender minha arte”, diz Ricardo Lísias sobre livro com pseudônimo de Eduardo Cunha que virou imbróglio jurídico
No final da semana passada, uma decisão da justiça do Rio de Janeiro derrubou a liminar que proibia a circulação do livro "Dário da Cadeia", assinado por "Eduardo Cunha (Pseudônimo)" e publicado pela Record. Os advogados do ex-deputado homônimo ao autor tinham conseguido barrar a publicação na justiça, mas um novo parecer, a favor da editora, permitiu que o texto finalmente chegasse aos leitores, só que com uma condição: inicialmente, o nome do escritor por trás do trabalho deveria ser revelado. Essa contrapartida seria revogada em uma nova liminar favorável à editora, mas o "santo" já estava entregue: tratava-se de Ricardo Lísias.
Mesmo sem Lísias querer falar muito sobre o imbróglio no qual ainda está envolvido, conversamos por telefone na manhã desta segunda-feira. A posição dele perante a tudo que vem acontecendo é bastante clara: "Eu vou defender a minha arte, minha estética, minha criação. Não posso mais negar que sou o escritor, mas também não posso falar em nome do pseudônimo. A ideia é que livro causasse incômodo, é uma literatura performática".
Essa não é a primeira vez que o escritor se vê em meio a uma confusão. Quando lançou "Divórcio", em 2011, foi acusado de expor sua ex-mulher e diversas pessoas do meio jornalístico. Já após o lançamento de "Delegado Tobias", em 2015, a Polícia Federal instaurou um inquérito contra o livro, o que teve ainda dois desdobramentos artísticos: outra publicação e uma peça teatral. Sim, para quem não o conhece, Lísias é um artista que a todo momento parece jogar com os limites entre o real e o ficcional.
"A literatura realmente política, de intervenção efetiva, é a que incomoda o poder. Escrever sobre o oprimido não incomoda o opressor. O que muda a realidade dos índios, por exemplo, é incomodar o poder que tira o direito deles. É importante termos ações como a do Banksy [artista inglês], que fez o hotel com a pior vista do mundo [fica na Cisjordânia, junto ao muro que separa a Palestina de Israel]. Se a arte não fizer algo do tipo, o poder adora, porque não incomoda em nada".
E, sobre o atual processo, afirma que já trabalha em um ensaio a respeito da batalha jurídica. "Eu acho fundamental o fato de que o artista é dono inclusive do nome com que assina sua obra, que hoje em dia já é parte da obra. Na capa do livro está absolutamente claro que é um pseudônimo. Quero que o direito fique longe da arte, principalmente quando ainda não a compreende e a julga de maneira destrutiva". O novo livro já tem até nome: "A Literatura no Banco dos Réus – Uma Tentativa de Pacificação Entre Arte e Direito".
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