Diário de Anne Frank ganha adaptação em HQ e versão pela perspectiva da árvore que a garota observava do esconderijo
No dia 6 de julho de 1942, Anne Frank e sua família se esconderam em um prédio de Amsterdã. Judeus, tentavam escapar da perseguição nazista que assombrava a Europa. Então com 13 anos, a garota ficou no abrigo até 1944, quando os Franks e as demais pessoas que ali estavam foram descobertas pelo exército de Hitler. Anne foi então enviada para o campo de concentração onde morreria aos 15 anos. Sua história, contudo, ficou eternizada por conta do diário que deixou com anotações sobre o cotidiano no esconderijo.
O pai de Anne sobreviveu à caça aos judeus e, após a guerra, incumbiu-se de divulgar os registros da filha. "O Diário de Anne Frank" foi traduzido para mais de 60 idiomas e se tornou um dos livros mais importantes do século 20, com sua autora sendo alçada à condição de ícone. Ainda hoje, a obra que registra o sofrimento, as dúvidas e aflições de uma adolescente que sonha com a liberdade em meio à tentativa de sobreviver em uma guerra aparece em listas dos mais vendidos e serve de inspiração para que artistas recontem tal história. É esse o caso de dois volumes que chegaram há pouco nas livrarias brasileiras: "O Diário de Anne Frank em Quadrinhos", da mineira Mirella Spinelli, e "A Árvore no Quintal", dos norte-americanos Jeff Gottesfeld e Peter McCarty.
Publicado pela Nemo, o primeiro título, como o próprio nome entrega, é uma adaptação em HQ da história da garota, seus familiares e colegas de abrigo. Mirella conta que a primeira vez que leu o clássico também tinha por volta de seus 14 anos, tal qual Anne, e ficou profundamente tocada com a trágica experiência vivida pela família Frank. "Os horrores da guerra, os sofrimentos impostos aos judeus, a luta pela sobrevivência a cada dia, me foram apresentados através do olhar sensível daquela menina", diz em entrevista ao blog.
Mais tarde, ao revisitar o diário, notou elementos que tinham passado desapercebidos na primeira leitura e passou a ver a guerra como um fator secundário, focando agora principalmente nas análises "bem-humoradas e inteligentes" que Anne fazia da vida no esconderijo, o que motivou Mirella a fazer sua releitura em quadrinhos.
"As esperanças, os sonhos, mas também os medos, os anseios, as angústias, os conflitos normais de uma menina que 'amadureceu' à força sem nunca perder a confiança nos seres humanos me tocaram de maneira especial. Outra peculiaridade revelada no texto é a admirável resistência daquelas pessoas que, mesmo vivendo aquela situação complexa, mantiveram a dignidade e não se curvaram diante das dificuldades impostas. Por tudo isso, o texto do 'O Diário de Anne Frank' se mantém extremamente atual, pois fala da natureza humana tanto no que tem de pior quanto de mais sublime", afirma a autora.
Veja algumas páginas da HQ:
A história pela perspectiva de uma árvore
Já o outro livro traz uma visão no mínimo inusitada para a história. Publicado pela Galera Junior, o infantil "A Árvore no Quintal" narra o cotidiano de Anne no abrigo pela perspectiva do castanheiro-da-índia que a garota podia observar da janela do prédio onde se escondia – ela fala dele no diário, inclusive.
Na obra, a árvore que viveu por 172 anos – morreu ao ser atingida por um raio em 2010 – é retratada como uma silenciosa e atenciosa observadora de tudo o que acontecia no abrigo. Depois que a garota é levada pelos nazistas, a planta passa anos esperando pelo retorno daquela que já considerava uma amiga. O tom melancólico da narrativa criada por Gottesfeld é potencializado pelas ilustrações em sépia feitas por McCarty.
"Sabia que trabalhar com a história de Anne seria lidar com algo quase sagrado. Não havia razão para escrever sobre ela a menos que eu pudesse trazer algo novo, diferente", conta Gottesfeld, que conheceu a existência castanheiro-da-índia após ler uma reportagem no New York Times. "A árvore para mim simboliza a continuidade, a inocência e até mesmo a infância. Ela podia observar Anne com certa ingenuidade, mas não podia lhe fazer nada, como tantas crianças podem observar as coisas, mas somente isso – em tempos de guerra, o protagonismo é dos adultos. Além disso, havia algo pessoal nesta história para mim. Quando eu visitei o esconderijo, a árvore ainda estava viva. Eu vi o que Anne viu, jamais esqueci isso".
Aqui algumas ilustrações de "A Árvore no Quintal":
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