No Brasil, o homem ainda tem medo de ser substituído pelo vibrador, afirma especialista
"No Brasil, ainda vigora o mito de que o vibrador ameaçaria e substituiria o homem. Eles temem o vibrador por medo de se tornarem obsoletos, por medo da comparação entre o tamanho do aparelho o do seu órgão genital, por medo de não se perceberem como provedores do prazer feminino, enfim, por medo da autonomia sexual feminina".
É o que aponta Luciana Walther, autora do livro "Mulheres que Não Ficam Sem Pilha", publicado pela Mauad, que nasceu da sua tese de doutorado em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre como o consumo erótico feminino está transformando vidas, relacionamentos e a sociedade. Apesar de o medo masculino criar certa resistência em algumas mulheres na hora de comprar apetrechos sexuais, o que Luciana apresenta é que o consumo tem crescido e que hoje as moças são responsáveis por 70% das vendas de sex shops. Mas a preocupação dos homens faz algum sentido? Veremos isso mais adiante.
Luciana teve a ideia de se aprofundar nesse mercado para tentar delinear o perfil das clientes de butiques eróticas femininas. Entrevistando compradoras, proprietárias e vendedoras de sex shops e observando o movimento em lojas e eventos de tal indústria, notou que os produtos exercem quatro tipos de influência na transformação das consumidoras: identitária (ajudando a redefinir para a pessoa o que é ser mulher), conjugal (contribuindo para o relacionamento de casais), social (quando a mulher espalha as descobertas para as amigas) e instantânea (auxiliando na descoberta do orgasmo, por exemplo).
Sim, em suas conversas Luciana se deparou com relatos de mulheres que tinham entre 28 e 70 anos quando, graças a aparelhos como vibradores, atingiram o orgasmo pela primeira vez. Utilizando codinomes para preservar a real identidade de suas entrevistadas, a doutora lembra de Bianca, que descobriu o ápice do prazer somente depois de quase três décadas de relacionamentos:
"Recém-separada, ela conversava com amigas manifestando sua dúvida sobre se costumava atingir o orgasmo durante suas relações sexuais. Como muitas mulheres, ela não tinha certeza. Uma amiga sugeriu o uso de um massageador elétrico para estímulo do clitóris. Quando chegou em casa, Bianca pegou o massageador de costas que havia ganhado de presente e nunca usava e o destinou à masturbação. Atingiu seu primeiro orgasmo, que passou a se tornar acessível sempre que quisesse, estando sozinha ou acompanhada".
Os vibradores, no entanto, não são os produtos mais vendidos por essas butiques eróticas – segundo a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico, quem lidera as vendas são os cosméticos. "Durante muito tempo, os vibradores nem sequer figuravam entre as cinco categorias mais vendidas. Recentemente, eles começaram a aparecer. Isso se dá porque o cosmético erótico é um produto mais barato, não suscita tanto preconceito e serve para o uso a dois. Ao contrário do que se pode pensar, grande parte das mulheres que vão ao sex shop no Brasil está buscando apimentar seus relacionamentos, não a satisfação individual de seu próprio prazer", comenta Luciana.
E os vibradores são uma ameaça?
Mas, afinal, os brinquedos eróticos utilizados pelas mulheres realmente representam alguma ameaça para os homens? De maneira alguma. "Minha pesquisa permitiu também refutar cientificamente tal mito, mostrando que mulheres não pretendem substituir homens por vibradores. Nenhuma consumidora disse exercer sua sexualidade apenas por intermédio do aparelho. Todas enfatizaram a importância do uso de produtos eróticos a dois. Para elas, relacionamentos são imprescindíveis. Mas ainda são necessárias muitas transformações sociais para que a resistência ao consumo erótico feminino e os tabus associados à sexualidade feminina caiam por terra no Brasil", crava Luciana.
A suposição, aliás, é, provavelmente, fruto do machismo e conservadorismo dos brasileiros. "Quando apresento os resultados de minha pesquisa em congressos internacionais nos Estados Unidos ou na Europa, com frequência membros da plateia, principalmente homens anglo-saxões, demonstram surpresa diante do conservadorismo e machismo brasileiros. Eles parecem estranhar a dominação masculina que ainda existe nos contextos patriarcais latino-americanos", relata a pesquisadora.
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