Seria Star Wars uma releitura da história de Jesus Cristo?
"Diferentes culturas têm diferentes rituais e tradições. Há o Papai Noel, é claro, e o coelhinho da Páscoa, e a fada dos dentes. Mas nada se compara a sentar-se com uma criança para sua primeira sessão de Star Wars. Quando as luzes se apagam, e aquelas amadas letras douradas preenchem a tela, e a música familiar de John Williams anuncia o que está vindo, há veneração e encanto. Inúmeros fantasmas entram na sala. É bom vê-los. Star Wars traz de volta os mortos".
Quem escreve isso não é apenas um dos milhões de fãs da saga que há pelo mundo, mas Cass R. Sunstein, professor de Harvard, onde fundou e dirige o Programa de Economia Comportamental e Políticas Públicas. É ele o autor de "O Mundo Segundo Star Wars", que acaba de sair por aqui pela Record, livro no qual mostra como o mundo criado por George Lucas pode ser interpretado de diversas formas: com olhar político, religioso, econômico, familiar, psicológico, mitológico…
Se comentar da importância da obra de Joseph Campbell e a sua "Jornada do Herói" para a existência da saga já é algo batido, o livro de Cass surpreende principalmente os leitores menos aficionados pela série ao utilizá-la para falar de assuntos caros ao nosso cotidiano e a respeito de debates atualmente em voga, como liberdade de opinião e expressão, igualdade de gênero e casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"A compreensão da saga 'Star Wars' nos diz um bocado sobre o direito constitucional – não em termos de conteúdo, mas em termos de como ele é criado, e os tipos de liberdade e limitações que os juízes têm. Em suma: direito constitucional está cheio de momentos 'Eu sou seu pai' – voltas e reviravoltas, reversões, escolhas inesperadas, sementes e caroços que lançam narrativas inteiramente novas. Juízes são autores de episódios, enfrentando um contexto que eles não têm poder para mudar. Mas ainda assim são capazes de ter muita criatividade", opina Cass.
Em outro momento, apoiando-se em um trecho da "Bíblia" – "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor" (1 Coríntios 13:13) -, o autor aproxima a saga ao cristianismo, comparando Anakin Skywalker a Jesus Cristo. Os argumentos? Ambos nasceram de uma virgem, não possuem pai humano e "morreram pelos pecados da humanidade, que ele encarna e simboliza", aponta falando sobre o personagem. "Lucas produziu uma reconstrução altamente imaginativa da vida de Jesus, na qual a figura de Cristo é pecador, incapaz de resistir a Satanás até o fim, quando sacrifica tudo pela sua criança (e simbolicamente por todas as crianças)".
Nesse sentido, Cass prossegue: "Lembre-se de que é a promessa da imortalidade (para seus entes queridos) que acaba sendo a maçã de Satanás. É assim que a serpente seduz Anakin, convencendo-o a desistir de sua própria alma. Mas, ao sacrificar sua própria vida, Anakin derrota o grande tentador – e recebe sua alma de volta no processo. Amando seu filho e matando Satanás, ele restaura a paz na Terra. (Então não é por acaso que a palavra 'paz' aparece nos letreiros iniciais de 'Uma Nova Esperança' e de 'O Despertar da Força'. E Cristo é, claro, o Redentor)".
Já tinham enxergado a história de "Star Wars" dessa perspectiva?
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