Nobel para Dylan é simbólico em época de livros para colorir e de youtubers
E o Prêmio Nobel de Literatura de 2016, principal honraria do universo das letras e reconhecido por eternizar autores de livros consagrados, foi para um… músico. Sim, um músico, ou ao se falar de Bob Dylan alguém o coloca primordialmente como escritor?
Mas não que a rotulagem seja um problema, evidentemente. Literatura é arte e arte é forma, a plataforma na qual está inserida, seja como texto em um livro, seja como canção em um disco, deveria ser uma questão menos relevante. Aliás, em época de livros para colorir e de autobiografias de youtubers de 15 anos, nada mais simbólico do que o Nobel ir para alguém que está distante do mercado editorial; ajuda a deixar claro que livro não significa literatura, ainda que a esmagadora maioria das publicações literárias esteja sim nesses calhamaços de papel – e que há, claro, diversos excelentes escritores que também mereceriam o prêmio.
Com letras profundas e impactantes, como as de "Blowin' in the Wind" e "Subterranean Homesick Blues", o Nobel para Dylan me remeteu à época na qual a literatura estava muito longe de ser habitualmente cunhada em folhas, à literatura oral dos povos antigos, origem da tradição que temos hoje. Remeteu também ao trovadorismo, vertente portuguesa do século 11 na qual os poetas musicavam seus versos de "amor, amigo, escárnio e maldizer", como aprendemos na escola.
Esse Nobel também serve para colocar uma pitada a mais de tempero na discussão sobre se alguns músicos e compositores brasileiros, como Cazuza, Renato Russo e Caetano Veloso, merecem ou não ser chamados de poetas. Muitos alegavam que não, porque suas letras eram músicas, não poemas. Pois bem, esse argumento agora enfraquece bastante.
O Prêmio Nobel para Bob Dylan comprova que a boa escrita e a poesia podem estar em qualquer lugar.
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