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“Provei meu valor”, diz Isabela Freitas ao vender quase 1 milhão de livros

Rodrigo Casarin

30/08/2016 07h50

Foto: Leo Aversa

Foto: Leo Aversa

Em 2014, Isabela Freitas fazia sucesso com seu blog quando acertou a publicação de seu primeiro livro, pela editora Intrínseca. Muitos viraram a cara para aquela garota que saia da internet e chegava ao mercado editorial. Impossível não comparar tal fenômeno com o que vemos acontecer com os youtubers, que se destacam na programação da 24ª Bienal Internacional de São Paulo, justamente onde estará hoje, às 11h, para conversar com seus fãs.

No entanto, depois da estreia com "Não Se Apega, Não" veio "Não Se Iluda, Não" e a autora cativou o seu público leitor, tanto que já vendeu até aqui 940 mil exemplares de seus livros – e o terceiro da série chegar às livrarias ainda este ano. "Acho que os livros conquistaram esses leitores porque são leves, com uma personagem confusa, divertida, engraçada, que se bagunça toda na vida, nos relacionamentos, e em tudo que faz. As pessoas se identificam, e não sentem dificuldade em ler os livros. Além de que eles falam sobre relacionamentos, e bem, quem não gosta de falar sobre relacionamentos?", comenta Isabela em entrevista ao Uol.

No papo, a garota, hoje com 25 anos, também falou da importância que as mídias digitais podem ter para um escritor e, claro, comentou sobre seus colegas de internet que estão chegando agora no mercado editorial. Confira:

Você tem uma presença bastante forte nas mídias digitais, faz vídeos, fotos… Quanto essas atitudes são necessárias para um escritor hoje?
Acho que essa atitude não é necessária e essencial para um escritor, mas é legal que ele esteja presente nas redes sociais de alguma forma, e que tenha um contato direto com o leitor. Eu me posiciono dessa forma, pois antes de me tornar uma escritora, já era blogueira. Com o sucesso do primeiro livro, o público aumentou, e vieram os pedidos para que eu criasse um canal. Criei e adorei! Vídeos são uma forma mais direta de comunicação do que textos no blog, é mais íntimo. Eu gosto dessa presença on-line.

Há chances de sucesso com os jovens se não houver tamanho engajamento nessas mídias?
No campo da escrita? Há! Claro! Sempre gostei muito de ler, e na minha adolescência essa intimidade entre ídolo e fã era inexistente. Eu não sabia nada dos meus escritores favoritos, e os idolatrava da mesma forma. Mas não podemos negar que nos dias de hoje, quem não procura interagir com seu público on-line, de certa forma está perdendo uma boa oportunidade de conquistar mais e mais pessoas.

A Bienal deste ano está repleta de youtubers. Como você enxerga esse fenômeno? Já leu livros deles? O que achou?
Acho incrível. Os youtubers são muito criticados, tem gente que diz que eles não merecem escrever livros, que não são escritores… Eu discordo completamente. Se você não gosta do conteúdo do livro, não leia. É tão simples! Eles arrastam multidões de jovens para uma Bienal, estão incentivando a leitura, introduzindo o jovem no mundo dos livros. São leituras leves, divertidas.

Foto: Leo Aversa

Foto: Leo Aversa

Você também surgiu da internet, mas em uma época que o que estava em alta eram os blog. É possível comparar esses autores que surgiram de blogs com o que estão vindo do Youtube?
Sofremos as mesmas críticas. Quando a Intrínseca anunciou que eu iria escrever um livro, eu sofri muito "hate" de uma galera que também escrevia, e tinha o sonho de publicar um livro. Disseram que me contrataram só porque eu tinha um rostinho bonito, que meu livro seria escrito por ghost writer, que não venderia nada, que deveriam dar a oportunidade para quem sempre teve esse sonho… Só que ninguém sabe que eu sempre fui eleita a "leitora do ano" no meu antigo colégio, que eu li "Brumas de Avalon" com dez anos de idade, e que o maior sonho da minha vida era publicar um livro. Por isso eu fiquei na minha, e provei para todos que eles estavam errados. Eu era capaz, não só escrevi um livro, mas um livro que conquistou uma multidão de leitores. Provei meu valor.

Ainda nesse sentido, você se sente uma precursora ou uma espécie de "velha guarda", apesar da pouca idade, do que está acontecendo hoje?
Um pouco! Acho engraçado que na época que eu "saí" da internet, isso não era algo comum, não víamos pessoas da internet à venda nas livrarias. É hoje é o que mais tem! Acho que dei o pontapé inicial, e tenho muito orgulho disso. Adoro quando um leitor diz que não gostava de ler, e que aprendeu a gostar da leitura com os meus livros.

O que vemos na internet é você de fato ou uma personagem criada? Como é a Isabela na vida real, fora da internet?
Sou eu, de fato. Eu sou tão eu, que até a personagem principal dos meus livros se chama Isabela (risos). Os meus vídeos sequer têm roteiro, gosto de deixar tudo muito natural. Não penso antes de me posicionar, não gosto de fazer pose, fingir ser algo que não sou, ou tentar aparentar ser mais do que sou. A imperfeição e a sinceridade me encantam.

Como são seus hábitos de leitura? Lê com qual frequência? O que você costuma ler? O que está lendo no momento?
Eu leio demais. Se pego um livro hoje, termino no máximo amanhã. Não gostava de ler no celular, me recusava a fazer isso. Quando viajava tinha que levar uns dois livros comigo, carregava muito peso. Mas aí descobri a magia de ler no celular: não carregar peso e ter livros ao seu alcance onde você estiver. Se a conversa está chata, abre o livro no celular e começa a ler! Estou lendo "Perdida", da Carina Rissi. Gosto de ler de tudo um pouco.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.