Manual do Mundo: “O Youtube ainda é mal aproveitado para conteúdo sério”

Há oito anos Iberê Tenório começou a tocar um projeto paralelo ao seu emprego de jornalista, o Manual do Mundo, um canal no Youtube sobre ciência em uma época na qual a mídia ainda engatinhava. Em 2011, a iniciativa começou a crescer e ele largou a carteira assinada para, junto de Mari Fulfaro, sua parceira de empreitada, virar um youtuber quando o termo era praticamente desconhecido no Brasil. Hoje, Iberê e Mari possuem mais de 6,5 milhões de assinantes que acompanham o Manual do Mundo e estão entre as principais atrações da 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que vem sendo chamada justamente de "a Bienal dos youtubers", onde palestraram no começo da noite deste domingo.

"O Youtube ainda é mal aproveitado para conteúdo sério. Existe uma guerra de entretenimento, de comédia, mas os canais que ensinam ainda são poucos, têm muito espaço para crescer. O Youtube parece mesmo com o momento da televisão", disse Iberê ao Uol em entrevista que aconteceu um pouco antes da apresentação começar.

Iberê e Mari durante o papo na Bienal deste ano.

Com oito anos, o Manual do Mundo pode ser encarado como um canal "old school" de sucesso em um meio no qual o espaço entre ascensão e queda pode ser de apenas alguns meses. Talvez a razão para tal esteja na aposta pelo conteúdo de qualidade citado por Iberê, o que leva a comparações com programas célebres como "O Mundo de Beakman" e "X-Tudo".

"Nos esforçamos muito para transformar algo chato em legal, turbinar o entretenimento com conteúdo. Tem canais de super professores que fazem muito sucesso também. Eles nunca vão ter 5 milhões de assinantes, mas, dentro daquele universo, é um sucesso absurdo. Pouca gente ainda dá o valor que o Youtube merece pela forma que democratizou a informação", comenta Iberê.

Talvez o ápice dessa preocupação com o conteúdo educacional possa ser visto no vídeo sobre como fazer vomito falso comestível. "Ali explicamos para que serve o vomito, o que leva uma pessoa a vomitar quando vê outro vomitando, enfim, ensinamos algo legal. Ficou uma explicação muito decente num vídeo bisonho".

Dentre os programas com maior número de acesso estão um que ensina a congelar a água em menos de um segundo – possui mais de 12 milhões de visualizações –, outro que orienta como descascar um ovo com auxílio de uma garrafa pet e um terceiro que instruí o expectador a fazer uma amoeba – espécie de geleia de brinquedo – magnética. Com mais de mil episódios no ar – levam ao menos três horas para gravar cada, mas alguns consumem dias –, Iberê diz que a coisa "mais louca" que fizeram foi um "canhão de madeira que nem cabia em uma camionete, tivemos que arrumar um caminhão e várias pessoas para carregá-lo… Loucura total!".

Em 2014 o projeto virou também um livro que ensina o leitor o passo a passo de diversos experimentos. "O Manual do Mundo poderia estar em um livro desde o começo, é um caminho natural, todo nosso conteúdo funciona muito bem quando escrito. Facilita também para realizar os experimentos, fica mais fácil carregar o livro para cozinha, para onde quiser. E queremos fazer vários outros, uma coleção", conta o jornalista – os próximos dois volumes dessa série devem sair em 2017.

Hoje, além do canal no Youtube, o Manual do Mundo é também uma empresa que conta com nove funcionários e cerca de seis freelancers (dentre eles consultores e professores), que produz vídeos educativos de treinamento e objetos educacionais digitais para editoras de livros pedagógicos.