Sucesso no Youtube, garota trans lança livro sobre sua redesignação sexual
Certa vez, quando Amanda caminhava para empresa de telemarketing onde trabalhava, quatro ou cinco rapazes em um carro passaram ao seu lado e imediatamente começaram as provocações: "Oi, gatinha, quer carona?", "Gostosinha você, hein?", diziam. A garota, com medo, apertou o passo. Quando Amanda já estava quase que correndo, um dos garotos gritou "Ih, rapaz, não é gatinha, não! É um traveco". Aceleraram, então, mas antes de irem embora um deles arremessou uma lata de cerveja contra as costas da menina.
Esse é um dos episódios de violência e preconceito que Amanda Rodrigues, transexual de 27 anos, já passou e que revela em "Meu Nome é Amanda", livro autobiográfico recém-lançado pela Fábrica 231. A garota é mais uma das web celebridades que aproveitam a popularidade alcançada na internet para estrearem no mercado editorial. No caso dela, o canal Mandy Candy, no Youtube, onde fala sobre temas que interessam aos jovens e, claro, sobre questões de gênero, já alcançou quase 300 mil assinantes e alguns dos seus vídeos rompem a marca de um milhão de espectadores.
"Sempre quis ter um livro, acho que esse item consta na lista de muitas pessoas para coisas que pretendem fazer antes de morrer, né? Mas o mais importante foi atingir gente de fora da internet para que entendam e vejam que nós, mulheres e homens transexuais, somos iguais a qualquer um", diz ela ao blog sobre sua nova empreitada, na qual contou com a parceria de Lielson Zeni, escritor que a ajudou a organizar as ideias e a construir o texto.
Dessa forma, temos um relato onde Amanda relata como nunca se identificou com o corpo outrora masculino (desde criança dizia que o que mais queria era "ser menina"), lembra do bullying que sofria na escola – o medo dos colegas fazia com que faltasse às aulas, o que prejudicou seu desempenho escolar a ponto de repetir dois anos –, narra como foi fazer a cirurgia de redesignação sexual na Tailândia, em 2012, e também como é sua vida hoje, em Hong Kong, para onde mudou por conta do trabalho e onde conheceu o parceiro com quem se casou.
Amanda acredita que sua vida teria sido bem diferente se, quando era adolescente, tivesse alguém transexual que conversasse com ela da mesma forma que ela dialoga com seu público. "Teria começado a transição mais cedo e não teria tido toda angústia por não saber quem eu realmente era durante a infância e adolescência". E para quem hoje tem dúvidas sobre a real identidade de gênero, aconselha: "Procure ajuda de alguém capacitado, existem diversos psicólogos pelo Brasil que podem te ajudar a entender tudo que está acontecendo. Você não está sozinha! O início da transição é difícil, parece que nunca vamos conseguir ser quem realmente somos, mas tenha paciência! Não tem nada melhor do que olhar no espelho e se enxergar".
Enxergando-se plenamente no espelho, relata que continua sofrendo preconceito, mas que isso se limita basicamente ao mundo virtual. "Já mudei de sexo há bastante tempo e quem não me conhece e sabe da minha história não tem ideia que sou uma mulher trans. Mas é complicado, todo dia recebo mensagens de pessoas falando que vou para o inferno e que deveria morrer, ou que se me vissem na rua iriam me bater. Denuncio todos! Fica a dica para quem sofre preconceito dentro ou fora da internet, denunciem! Não ignorem pois essas pessoas estão cometendo um crime". Além de denunciar, a garota também conta com ajuda de seus seguidores. "Meus inscritos que se encarregam de colocar o preconceituoso no lugar dele. Acho bacana ver que tanta gente me defende e está ao meu lado".
E sobre viver tão longe dessa gente, seus conterrâneos, o principal público de seu canal, a moça diz que sente falta principalmente da proximidade física com os fãs. "Essa troca de energia é maravilhosa, nunca tinha me sentido tão querida e amada como me sinto hoje em dia". E esse contato deverá ser intenso pelos próximos dias, já que Amanda está em turnê de divulgação do livro pelo Brasil: entre os dias 18 de agosto e 10 de setembro, passará por Salvador, Fortaleza, Brasília, Manaus, São Paulo, onde participará da Bienal, e Rio de Janeiro.
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