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Chacal: “O rap deu sobrevida à poesia, o rap é o novo cordel”

Rodrigo Casarin

30/06/2016 15h28

Foto: Odair Faléco

Foto: Odair Faléco

"O rap deu sobrevida à poesia, popularizou, levou para a periferia". É o que acredita Chacal, poeta que despontou junto com a geração marginal da década de 70 e agora está lançando pela Editora 34 "Tudo (E Mais um Pouco)", livro que reúne todos seus trabalhos anteriores, publicados entre 1971 – quando lançou "Muito Prazer, Ricardo" – e este ano – tinha publicado "Alô Poeta" há pouco.

Em Paraty para a Flip – participou do sarau de abertura da Festa e no sábado, às 22h, fala na Casa Cais – e para começar a falar sobre o novo título – uma edição atualizada da reunião de sua obra que já havia lançado pela finada Cosac Naify, sua antiga editora -, Chacal conversou com o UOL à beira da piscina da pousada onde está hospedado. Para ele, a grande contribuição que sua geração deixou para a poesia foi ir além do papel. "A poesia falada é a grande herança da nossa geração", acredita.

Justamente por isso que credita ao rap o fato da poesia hoje encontrar um espaço minimamente digno, principalmente nos saraus que existem pelo país. "O rap é o novo cordel, é o cordel da era digital, as ideias são as mesmas: o ritmo, as rimas, o improviso. Um repentista é muito parecido com rappers nas batalhas musicais", compara.

Foto: Odair Faléco

Foto: Odair Faléco

Um punk místico

Também compunham essa cena poética – marcada por imprimir livretos em mimeógrafos e divulgar o trabalho nos bares da cidade – do Rio de Janeiro durante a década de 70 nomes como Charles Peixoto e Ana Cristina Cesar, a homenageada da Flip deste ano. Chacal, no entanto, discorda de quem chama a antiga colega de "marginal". "Ela era uma bela poeta, mas não era marginal. Ela não tinha a cultura rock'n'roll, punk ou do underground, era mais acadêmica, ainda que brigasse dentro da academia. A Ana não é contracultura, é supercultura".

Chacal, por sua vez, era e continua sendo o próprio punk – ou proto-punk, como prefere se definir, por ter crescido e se formado após o ápice do movimento hippie e antes do punk explodir pelo mundo. Com 65 anos, ao ser questionado sobre sua postura, brada: "o punk nunca vai morrer, cara!". Crê nisso porque o vê como um "grito da alma humana que estava até na poesia de Rimbaud. É se rebelar contra a incompletude da vida. Uns se integram e aceitam as coisas como são, outros não. Outros vão lá e pedem 'fora, Temer'".

O punk em questão, no entanto, também tem seu lado místico. A primeira versão do projeto gráfico de "Tudo (E Mais um Pouco)" tinha uma capa marrom que remetia ao papel craft comumente usado pelos poetas marginais na década de 70 para imprimir seus escritos. Chacal achou lindo, mas rejeitou prontamente, não queria aquele tom. "O marrom, na cromoterapia, é uma cor de estagnação e o Roberto Carlos não usa marrom, então juntei essas duas coisas e pedi para que fizessem diferente".

A solução encontrada pela 34 foi trabalhar com outras cores comuns ao papel craft, então. Com isso, o livro sai com quatro capas diferentes: azul, salmão, verde-claro e um vermelho que se aproxima do ocre. Além dessas participações na Flip, Chacal também lançará "Tudo (E Mais um Pouco)" no dia 14 de julho, na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.