Livros invadem a cozinha: a tendência gastronômica do mercado editorial

"Bela Cozinha 2", de Bela Gil, "Todas as Técnicas Culinárias", de Jeni Wright e Eric Treuille, "Dona Benta – Comer Bem", assinado por diversos autores. O que esses livros têm em comum? Além da clara conexão temática – são livros gastronômicos -, aparecem, respectivamente, na quinta, sexta e oitava posição da lista dos mais vendidos de não ficção do site Publishnews.

Ter 30% do top 10 preenchido por títulos que seguem uma mesma linha comprova o quanto o assunto está na moda no mercado editorial – tanto é que Tom Brady, jogador de futebol americano e marido de Gisele Bündchen, aventurou-se no ramo e lançou recentemente, nos Estados Unidos, o "TB12 Nutrition Manual", que custava US$ 200 e se esgotou rapidamente, mostrando que a onda é internacional. Pegando, de alguma forma, carona na tendência, até o livro mais vendido de Marcelo Rossi na atualidade flerta com a culinária: em "Ruah", o padre aparece na capa com um avental em meio a uma cozinha, com uma cesta de frutas e legumes e alguns temperos à sua frente para, na obra, falar, dentre outras coisas, de hábitos alimentares.

O início dessa febre remonta ao início deste século, quando programas de televisão sobre o tema começaram a ganhar cada vez mais espaço na programação das emissoras. "A culinária passou a ser vista de outro prisma, como uma forma de relaxar, como arte", diz Soraia Reis, diretora adjunta editorial da Companhia Editora Nacional, que investe no segmento há décadas e planeja lançar no futuro próximo títulos como "Cozinha Popular", de Maria Stella Libânio e Frei Betto, e "Sem Tempero Não Dá", de Anna Elisa Castro.

Jeane Passos, publisher da Editora Senac São Paulo, outra casa que aposta fortemente no nicho, concorda com a colega e acrescenta alguns outros pontos à questão. Diz que esses programas incentivaram as pessoas a criarem o hábito de cozinhar em casa, algo potencializado pelo atual cenário econômico do país. "Inspiradas, por exemplo, pelos programas culinários, muitas pessoas buscam formas de aprender a cozinhar em casa e encontram apoio nos livros. As pessoas estão (re)descobrindo o prazer de cozinhar em casa para os amigos, para a família ou paras elas mesmas. Há ainda a busca por formas de economizar e também a procura por alimentação saudável. Hoje, muitos preferem cozinhar suas próprias refeições no lugar de consumirem alimentos industrializados, por exemplo".

Simplicidade

Na Senac São Paulo, o segmento de gastronomia e culinária é um dos carros-chefe da casa, tanto que os 264 títulos da área que já publicaram representam, hoje, 31% do faturamento líquido da empresa, reconhecida com 12 troféus e eleita a melhor editora do ramo no mundo no último Gourmand World Cookbook Awards, o prêmio internacional mais importante no segmento de gastronomia do mercado editorial. Dentre seus sucessos se destacam os títulos de Rita Lobo: "Panelinha: Receitas que Funcionam" e "Cozinha Prática".

É com esse respaldo que Jeane comenta o que é uma boa obra do segmento. "Podemos considerar um bom livro aqueles que, em primeiro lugar, primam pela qualidade do conteúdo, ou seja, informações e receitas com fontes checadas e verdadeiras, porcionamentos corretos, clareza e linguagem acessível nas indicações do modo de preparo, indicações de ingredientes acessíveis e possibilidades de substituições, quando não forem parte da cultura alimentar do país ou região. Outra questão importante é o projeto gráfico, que deve conter muitas imagens (fotografias ou ilustrações) da montagem final da receita executada e, se possível, do passo-a-passo do processo de produção. E por fim, se além das questões postas acima o livro apresentar um preço de capa acessível, ele certamente surpreenderá a todos".

Ao falar quais livros as pessoas buscam, a diretora da Companhia Editora Nacional, por sua vez, aposta na simplicidade. "Apesar de existirem muitos livros na área, com receitas de vários países e regiões, creio que existe a busca do simples aliado à felicidade e ao prazer de cozinhar para a família e para os amigos, privilegiando o sabor e a beleza dos pratos. A utilização de temperos e alimentos mais brasileiros também fazem sucesso. Conhecer e produzir um bom prato com os alimentos da Amazônia, por exemplo, passa a ter um sabor especial. Receitas mais saudáveis como forma de prevenção já começam a ter uma boa procura no Brasil também".

Dona Benta na cozinha

E se as pessoas querem simplicidade, o maior best-seller culinário da história do país, publicado justamente pela Editora Companhia Nacional, remete a isso. "Dona Benta – Comer Bem" é um livro de quase 1100 páginas lançado originalmente em 1940 e que hoje, apesar de custar R$149 em sua edição de capa dura, ainda aparece em listas dos mais vendidos, como vimos na abertura da reportagem. Ao longo da história, mais de 5 milhões de unidades da obra, que está na 77ª edição, foram comercializadas. "Isto nos dá uma grande satisfação e muito prazer. São várias gerações sendo criadas, comendo deliciosos pratos da Dona Benta", diz Soraia, lembrando da mão caprichosa da simpática velhinha criada por Monteiro Lobato frente ao fogão.

De seis anos para cá, a editora ainda começou a apostar em outros produtos que surgem a partir da obra de 1940, como uma versão mais barata (R$60), com capa flexível e mesmo conteúdo, outra apenas com receitas de verão e uma terceira com a seleção das melhores receitas. Para este ano, estão programados lançamentos de edições temáticas como "Dona Benta Pães", "Dona Benta Doces" e "Dona Benta Petiscos", que chegarão ao mercado com preços que devem ficar entre R$10 e R$30.