EUA se parece mais com o Brasil do que você crê, pergunte a um negro pobre

Protesto do "Black Lives Matter".

"A realidade de 'The Hate U Give' em um bairro pobre americano não é muito diferente da realidade das favelas cariocas ou de outras cidades brasileiras. Lá atiram antes e perguntam depois, e aqui também. E por quê? Precisamos conversar sobre isso, precisamos ler sobre isso, ouvir, nos informar", é o que diz Ana Lima, editora-executiva da Galera, selo da Record, ao falar sobre o livro recentemente adquirido pela casa e que será publicado no Brasil em 2017.

Michael Brown, o garoto de 18 anos assassinado por policiais.

Escrito por A. C. Thomas, "The Hate U Give" está ancorado em uma triste realidade dos Estados Unidos. Em agosto de 2014, Michael Brown, negro de 18 anos que vivia em Ferguson, no Missouri, foi morto por um policial branco que o alvejou com seis tiros. O assassinato desencadeou uma onda de protestos de pessoas revoltadas com a discriminação e o racismo das forças de segurança do país. Desses atos surgiu o movimento no qual a escritora buscou inspiração: o "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam"), composto por jovens que buscam questionar essas mazelas e arbitrariedades perpetuadas há séculos.

Como sabemos, o problema de lá é semelhante ao daqui, onde 77% dos jovens assassinados são negros e, em cidades como São Paulo, o número de negros executados por policias chega a ser três vezes maior que o de brancos. Para Ana Lima, publicar livros com temas complexos – e muitas vezes difíceis – para um público formado em sua maior parte por adolescentes é algo necessário e até mesmo urgente. "Os jovens gostam e precisam estar retratados nas histórias que leem. Os livros young adult contemporâneos já têm dezenas de heroínas brancas; é hora de ser diferente, de espelhar outras realidades e, infelizmente, algumas injustiças também".

A. C. Thomas, autora de "The Hate U Give",

"The Hate U Give" apresenta para os leitores Starr, uma garota de 16 anos que cresceu em uma região miserável, mas estuda em uma escola de classe média. Não bastasse a divisão que há entre esses seus dois mundos, a menina ainda vê o seu melhor amigo ser assassinado por um policial, o que altera radicalmente sua rotina e sua cabeça.

A obra fez sucesso praticamente imediato nos Estados Unidos, onde 13 editoras disputaram a sua publicação, tem uma versão cinematográfica sendo produzida pela Fox – que será estrelada por Amandla Stenberg – e já teve seus direitos negociados com 11 países.