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Reedições de Manoel de Barros trazem textos de Luiz Ruffato e Hugo Mãe

Rodrigo Casarin

06/04/2016 14h38

manoel de barros

Em dezembro deste ano, o poeta Manoel de Barros completaria cem anos. Por conta da data, a Alfaguara começou a reeditar a obra do escritor – alguns títulos de sua autoria estavam esgotados há anos -, começando pelos livros "Poemas Concebidos Sem Pecado + Face Imóvel", publicados, respectivamente, em 1937 e 1942 e agora unificados em uma edição única, e "Arranjos Para Assobio", de 1982, que já estão disponíveis nas livrarias. Em maio será a vez de lançar a nova edição de "O Livro das Ignorâncias", de 1993.

poemas sem pecado e face imovelAlém das reedições com textos de apoio assinados por escritores renomados, como Valter Hugo Mãe e Luiz Ruffato, também se destacam nesses volumes um material iconográfico inédito relacionado ao autor. São fotos, manuscritos e cartas trocadas com outras personalidades do meio literário, como o editor Ênio Silveira e os escritores Mário de Andrade, Millôr Fernandes e Carlos Drummond de Andrade – veja aqui uma carta enviada por este a Manoel, o manuscrito de "Enseada de Botafogo" e algumas fotos inéditas.

"Essas cartas estavam (e estão) sob a guarda da artista plástica Martha de Barros, que é a responsável por todo acervo do seu pai. Elas comprovam que o trabalho de Manoel já era conhecido e reconhecido antes da explosão de visibilidade, que veio tardiamente, já nos anos 80, fazendo dele um personagem da cena literária muito mais de fins do século 20, que dos momentos clássicos do modernismo dos anos 20 aos 50. Sob certos aspectos, Manoel é um pós-moderno", diz Italo Moriconi, responsável pela curadoria das reedições. Sobre esse acervo, o curador conta que não se tem notícias de poemas jamais publicados, mas que há cadernetas de anotações de Manoel que ainda não foram liberadas ao público.

Ao olhar para a obra do poeta, Moriconi considera que os traços que se fazem mais presentes nesse centenário são "a ética da simplicidade, do desapego, do respeito e deslumbramento constante com a natureza ao redor". Justamente por isso, Manoel poderia ter algo a acrescentar no conturbado momento político que o país vive. "Ele fortalece posições ecológicas, a crítica ao consumismo e à modernidade, sem deixar de ser hipermoderno do ponto de vista estético. Seu ponto de vista é o do marginal, residual, periférico. Mais antenado que sua obra com a crítica política contemporânea, não posso imaginar", analisa o curador.

Manoel de Barros morreu em novembro de 2014, vítima de falência múltipla dos órgãos. Em vida, por conta de sua poesia, ganhou importantes prêmios literários, como o APCA e o Jabuti. A partir de 2000, após sua obra sair em Portugal, passou a ser traduzido para diversos idiomas.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.