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Pelas mulheres, Manara e outros quadrinistas boicotam prêmio de Angoulême

Rodrigo Casarin

07/01/2016 10h58

Arte de Milo Manara.

Arte de Milo Manara.

Um dos principais eventos de quadrinhos do mundo, o Festival de Angoulême, cuja 43ª edição acontece entre os dias 28 e 31 de janeiro na cidade do oeste da França, está vendo diversos autores refutarem a indicação ao seu Grande Prêmio como uma forma de protesto por nenhuma mulher estar presente dentre os 30 nomes que compõem a relação de finalistas. Até o momento, ao menos dez profissionais já aderiram ao boicote proposto pelo grupo BD Égalité, que luta pela igualdade de gênero nas HQs.

Riad Sattouf.

Riad Sattouf.

O primeiro quadrinista a pedir que seu nome fosse retirado da lista foi o francês Riad Sattouf, autor de "O Árabe do Futuro" e ligado ao jornal Charlie Hebdo. "Descobri que estava na lista de nomeados no Grande Prêmio dos Festival de Angoulême deste ano. Isso me fez muito feliz! Mas acontece que esta lista inclui apenas homens. Isso me incomoda, porque há grandes artistas mulheres que mereciam estar lá. Peço, assim para ser retirado desta lista, mas na esperança de poder reintegrá-la quando ela for mais paritária", escreveu em página do Facebook. Sattouf, que já foi premiado duas vezes em Angoulême, ainda citou as quadrinistas Rumiko Takahashi, Julie Doucet, Anouk Ricard, Catherine Rabelo e Marjane Satrapi como exemplo de mulheres que poderiam integrar a relação.

Outro que aderiu ao boicote e se manifestou publicamente por meio do Facebook foi o italiano Milo Manara, famoso no mundo inteiro justamente pelo seu talento para desenhar moças. "Tendo em conta a importância que as mulheres tiveram na minha vida artística e o fato de que eu sempre tentei ser respeitoso, acreditando que elas são o assunto, não o objeto do meu trabalho, quero retirar meu nome da lista de candidatos ao Grande Prêmio de Angoulême, que não indicou uma colega sequer como possível vencedora dessa importante premiação da nossa profissão", protestou.

Segundo o jornal francês Le Monde, ao menos outros oito quadrinistas já aderiram ao protesto: Joann Sfar, Daniel Clowes, Etienne Davodeau, Christophe Blain, François Bourgeon, Pierra Christin, Charles Burns e Chris Ware.

Posicionando-se com relação ao assunto, Franck Bondoux, produtor executivo do Festival de Angoulême, declarou a veículos franceses que "infelizmente existem poucas mulheres na história dos quadrinhos. Essa é a realidade. Se você for ao Louvre, também encontrará poucas artistas. O festival ama mulheres, mas não pode reescrever a história". Em seguida, um comunicado oficial no site do evento informou que novos nomes seriam acrescentados à lista de finalistas.

Até hoje, em 42 edições do Festival de Angoulême, apenas uma quadrinista ganhou seu Grande Prêmio: a francesa Florence Cestac, criadora do personagem Harry Mickson, vencedora do ano de 2000.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.