Coleção mostra aos brasileiros a diversidade da literatura latino-americana
Desde 2013 que a editora Rocco vem publicando a "Otra Língua", coleção organizada pelo escritor Joca Reiners Terron que reúne autores de países de língua espanhola de toda a América. Graças à série, nomes importantes como o chileno Juan Emar e o equatoriano Pablo Palacio estão sendo traduzidos e publicados pela primeira vez no país, apresentando aos brasileiros uma literatura latino-americana muito mais ampla do que aquela feita por uma dúzia de artistas consagrados, como Borges, Cortázar, Neruda, Bolaño, Benedetti, Galeano, García Márquez e Vargas Llosa. São escritores essenciais, claro, mas há muito além deles.
O lançamento mais recente da coleção é "O Uruguaio", que reúne duas novelas do argentino Copi. Já estão confirmados ainda "A Sinagoga dos Iconoclastas", do também argentino J. R. Wilcock, e "Prosas Apátridas", do peruano Julio Ramón Ribeyro. Quando chegarem ao mercado, a "Otra Língua" atingirá os 14 livros originalmente planejados, mas, se os editores desejarem, outros poderão vir. É o que garante Terron, com quem o UOL bateu um papo.
De onde surgiu a ideia de fazer a coleção "Otra Língua"?
Viajei muito aos países vizinhos com o barateamento das passagens aéreas da última década, além de a internet ter possibilitado maior contato com o que vinha sendo produzido na América Latina. Fiquei impressionado com o muito que li, e daí veio a ideia de propor a coleção à Rocco.
Como o Brasil se relaciona com a literatura de outros países da América Latina?
Pouco do que é produzido chega aqui, e quando chega é porque saiu na Espanha por editoras multinacionais. Então o leitor brasileiro fica refém dos interesses do grande mercado, o que limita bastante em termos de alcance. Existe todo um manancial que circula pouco inclusive entre os países de língua espanhola, publicado por pequenas editoras. O trabalho de descobrir esses livros é de formiguinha. Ou melhor: de traça.
Muitos dizem que a questão da língua acaba sendo uma barreira que afasta o Brasil da cultura de outros países latino-americanos, contudo, temos uma ampla difusão da cultura feita em outras línguas por aqui, principalmente o inglês. Como você vê isso?
É compreensível que se publiquem mais autores anglófonos aqui, pois é uma literatura de enorme tradição e grande qualidade. Também existem mais tradutores qualificados do inglês à disposição, por exemplo, do que de qualquer outra língua. É mais simples se informar a respeito e negociar direitos com autores de língua inglesa. Mas não podemos nos satisfazer com isso, existe muita coisa legal em línguas não dominantes por aí a se descobrir.
Para organizar a coleção você teve que mergulhar na produção literária de diversos países ou ficou mais no superficial, no que era evidente que deveríamos ter aqui mas não tínhamos?
Mergulhei, claro. A escolha de títulos reflete antes de tudo meu gosto pessoal, mas também o desejo de publicar certos autores imprescindíveis do século 20 que permaneciam inéditos aqui, como Juan Emar, Pablo Palacio e J.R. Wilcock. A inventividade da ficção hispano-americana é surpreendente.
A coleção já está fechada? Sabe quantos títulos serão? Ou é algo aberto, que pode sempre ser ampliado?
Está em aberto, mas dependo de decisões da editora para dar continuidade às escolhas de títulos. Por ora, serão catorze.
Como você encara a literatura latino-americana? Quais são as sua impressões sobre ela?
A literatura latino-americana é fantástica. Ademais, também é realista, experimental, inovadora, erudita, inculta, transgressora e conformista. Enfim, é bela.
No sentido oposto, como você percebe a literatura brasileira em outros países da América Latina?
Ainda temos que fazer muito para despertar a curiosidade de nossos vizinhos. E eles também têm muito a fazer, como formar editores e tradutores que se especializem em ler em português com alguma qualidade. Atualmente somos mais ignorados do que ignorantes, e fico satisfeito por ter contribuído para diminuir a altura do muro que nos separa.
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