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Já pensou em morar numa livraria? Em Paris isso é possível

Rodrigo Casarin

20/03/2015 22h00

shakEm 1919, a editora Sylvia Beach criou em Paris uma livraria que iria se tornar uma referência para amantes de literatura do mundo inteiro: a Shakespeare and Company. Por lá passaram grandes nomes das letras mundiais, como Ezra Pound, Ernest Hemingway e James Joyce. Contudo, o lugar não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, fechou em 1940.

Mas não é esse o fim da história. Após a guerra, George Whitman, amigo de Sylvia e então proprietário da livraria Le Mistral, resolveu rebatizar o seu negócio, que, claro, passaria a se chamar Shakespeare and Company. Com isso, o endereço mudou – ficou alguns quarteirões mais próximo ao rio Sena, tendo a Catedral de Notre-Dame como vizinha de frente -, entretanto, a proposta continuou a mesma: mais do que um comércio de livros, o lugar é uma espécie de retiro para o fomento da arte feita com palavras. Escritores sem dinheiro podem se hospedar por lá gratuitamente, desde que trabalhem duas horas por dia na loja, ajudem em possíveis eventos e deem o fora em, no máximo, uma semana.

entSylvia faleceu em 1962, Whitman, em 2011, mas a Shakespeare and Company mantém a toada. O UOL visitou o lugar e, mais do que uma livraria, encontrou um destino turístico, de fato. Pessoas fazem questão de registrar sua imagem junto à fachada da loja. Na parte interna, onde é solicitado que não se tirem fotos ("por conta da quantidade de gente", justificou uma simpática atendente), o que se vê são tanto obras novas quanto antigas, já usadas, expostas em estantes de madeira, espalhadas por todos os cantos possíveis.

Com passagens estreitas, teto rústico, distribuição um tanto desordenada e pessoas se acotovelando, a impressão é que se está mesmo em um ambiente de alguma época passada. No andar superior, um quarto é ocupado por duas pequenas camas e um piano, além de mais livros, evidentemente. De frente para escada, um cubículo abriga uma cadeira velha e uma máquina de escrever. Num ambiente maior, um gato dormia em um sofá, enquanto um homem, com óculos e bigode que lembravam os de Joyce, fazendo de seu blazer cobertor, dormia em uma poltrona. Peculiar, no mínimo.

Se alguém quiser saber mais sobre a Shakespeare and Company, uma boa pedida é a obra "Um Livro Por Dia", de Jeremy Mercer, escritor que passou uma temporada na livraria.

Em Paris, para a cobertura do Salão do Livro, Rodrigo Casarin está hospedado a convite da rede Accor.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.